‘Lavoura Arcaica’ é homenageado no Festival do Rio

Evento faz sessão em película e Luiz Fernando Carvalho aproveita para anunciar que voltará a filmar em 2017

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Luiz Fernando Carvalho terá nesta quinta, 13, sua grande noite no Festival do Rio de 2016 – 15 anos depois, ele comemora, em alto estilo, o aniversário de seu único (por enquanto) filme, o mítico Lavoura Arcaica. “Quando fiz o Lavoura, e ele foi lançado, pensei que havia rompido um cordão umbilical. O que descobri depois foi outra coisa. Volta e meia, durante todo esse tempo, me pedem cópias do filme para exibição no País e no exterior. Tenho lá no meu armário as cópias que vivo despachando. E o que mais me impressiona é a ligação do Lavoura com os jovens. O filme é muito vivo, muito forte para eles.”

Cena de' Lavoura Arcaica' Foto: Divulgação

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Quando o festival lhe pediu o filme, Luiz Fernando fez um DCP, para exibição digital, como é praxe hoje em dia. Sendo como é, perfeccionista, foi conferir a cria. “Toda a textura das cores e da imagem havia desaparecido. Descobri que havia, encostado no Estação Botafogo, um velho projetor de 35 mm. O que fizemos foi restaurar o projetor para exibir a versão em 35 mm, que é esplendorosa.” Na época do lançamento, no começo dos anos 2000, o repórter estava impactado por Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky. Nem se fosse louco poderia ignorar a importância de Lavoura Arcaica, mas havia aquele amor pelo Bicho, no qual identificava sinais de Rocco e Seus Irmãos, o grande filme de Luchino Visconti. O crítico José Carlos Avellar, que morreu este ano, disse para o repórter que era uma paixão juvenil e que com o tempo ele chegaria ao culto do Lavoura.

Ninguém sabe mais o filme que fez que o diretor – “Não existe filme mais impregnado de Rocco no cinema brasileiro que o Lavoura”. E é verdade. A exibição desta noite será acompanhada de uma exposição com figurinos e adereços do filme. Luiz Fernando conta que andava em crise com sua atividade como diretor de TV. Estava pensando em desistir. E aí leu o livro de Raduan Nassar. Era o filme que queria ver, mas, para isso, teria de fazê-lo. Fez. Foram anos de dedicação ao projeto. A história lida com arquétipos – com o mito. Quem viu não se esquece do patriarca, Raul Cortez, reunindo a família ao redor da mesa. “Aquela é a lavoura do título, quando ele semeia a palavra”, reflete o diretor. Outra imagem inesquecível do filme é a dança de Simone Spoladore. “É o outro polo narrativo, a libertação do corpo.”

Com certeza, faz parte da mitologia do filme – uma fábula do filho pródigo – a juventude do elenco. “O filme foi definidor de muitas carreiras, incluindo a minha.” Luiz Fernando cita Selton Mello, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros. Raul Cortez é bíblico na pele do patriarca e ele só lamenta que o cinema brasileiro não tenha mais oferecido grandes papéis a Juliana Carneiro da Cunha. Mesmo dito como elogio, Luiz Fernando contesta quando se diz que ele faz cinema na TV. “Faço TV. O cinema tem outra linguagem, outra textura.” Nesses anos todos, pensou muitas vezes em filmar de novo. “Pensava e fugia”, admite. O peso de um primeiro filme tão grande o paralisará, como fez, por exemplo, com Mário Peixoto, autor de Limite? A boa nova, que Luiz Fernando anuncia – ele está finalizando outra transcriação. Dois Irmãos, de Milton Hatoum, para ir ao ar, na Globo, em janeiro. Depois... “Volto a filmar no ano que vem.” De novo a base literária, mas ele se cala. Promete – “Conto tudo depois que terminar o Dois Irmãos”.