PUBLICIDADE

Kusturica toca na Mostra BR de Cinema

O cineasta, além de apresentar seu novo filme Memórias de um Super-8, toca rock cigano na banda No Smoking Orchestra, à qual se integrou nos anos 80

Por Agencia Estado
Atualização:

É o maior presente que a Mostra Internacional de Cinema São Paulo, agora Mostra BR de Cinema, dá ao público no seu jubileu de prata. Emir Kusturica chega nesta terça-feira e se apresenta na quarta e na quinta-feira no DirecTV Music Hall: o primeiro show é para convidados, o segundo para quem comprar a permanente ou o pacote promocional da mostra, à venda no quiosque do Conjunto Nacional. Kusturica traz seu rock cigano ao País. "Pode anunciar uma festa cigana em São Paulo", promete. Traz também o novo filme, Memórias em Super-8, justamente sobre a No Smoking Orchestra, que o paulistano vai poder conferir. Após o show burocrático de ´Deus´ (Eric Clapton) na semana passada, o que Kusturica e seus amigos vão tocar é nitroglicerina pura. Emir, que prefere ser chamado assim, falou pelo telefone com a reportagem. Estava na Bretanha, na França. Em duas horas ia fazer um show para 10 mil pessoas. Outro artista talvez estivesse tenso, concentrado. Emir estava relaxado. Embora seja hoje o principal nome da Non Smoking Orchestra, ela já existia antes de ele se integrar ao grupo. A Non Smoking surgiu nos anos 80, com uma proposta contestadora. A antiga Iugoslávia se desintegrou, houve a Guerra da Bósnia. O diretor aproveita: "O certo seria dizer que sou iugoslavo, mas, para ser geograficamente correto, pode me chamar de bósnio." Sabe que o rock cigano não mudou o mundo, como queriam os integrantes da banda. Mas acredita que pode ajudar as pessoas a viverem melhor. É seu objetivo, como músico e cineasta. "Um filme ou um show podem alterar o ambiente, estimular as pessoas a desenvolver uma consciência." Faz seus shows de olho no Afeganistão. "Deploro o que ocorreu em Nova York, mas a represália americana não enobrece ninguém. Procuro ser otimista, faço filmes e shows para exaltar a vida, mas o instinto guerreiro do homem só leva à destruição e morte", observa. Há um mês, Goran Bregovic, que criou as melhores trilhas para Kusturica, se apresentou no Porto Alegre em Cena. Mostrou seu concerto para casamentos e funerais. "Mesmo que os funerais ciganos sejam alegres, nós preferimos tocar só música para casamentos." Nós, a No Smoking Orchestra. Vem de longe o fascínio de Kusturica pelo rock e pela cultura cigana. Duas vezes vencedor da Palma de Ouro (por Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios e Underground - Mentiras de Guerra), seu melhor filme é Vida Cigana, lançado só em vídeo no Brasil. Kusturica acha que o rock cigano é bom porque "propõe um mix de culturas e é politicamente forte". Não lhe dêem corda que ele fica horas explicando porque os ciganos são os primeiros cidadãos globalizados do mundo. "Derrubaram fronteiras culturais e geográficas." Gostaria de fazer isso com seu cinema, mesmo sabendo que tem raízes profundas nos Bálcãs. Sua ambição é fazer filmes que convidem à reflexão e fujam ao comum. Com os shows, a mostra promove uma retrospectiva do diretor que vai trazer até o inédito Black Cat, White Cat. A retrospectiva vai confirmar que Kusturica é cria de Fellini, Tarkovski, Renoir e Capra, seus cineastas preferidos. Preferências à parte, reconhece que seu cinema é qualquer coisa entre a herança neo-realista e o realismo fantástico de outro ídolo, o escritor Gabriel García Márquez.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.