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"K-19": tema americano com heróis russos

Filme estrelado por Harrison Ford usa a tripulação de um submarino soviético para tratar de uma tema tipicamente americano, a segunda chance

Por Agencia Estado
Atualização:

Harrison Ford é um ícone americano, goste-se ou não dele. Já foi presidente dos EUA, duas vezes agente da CIA. Não é a menor das curiosidades de K-19 - The Widowmaker ver agora Harrison Ford no papel de um oficial russo. Ele começa o filme de Kathryn Bigelow, que estréia amanhã, na firme posição de stalinista. Evolui para a surpreendente posição, num filme americano, de bater continência e reverenciar um punhado de heróis da extinta União Soviética, a quem ainda chama de "heróis da humanidade". Logo no começo de K-19, um letreiro informa que o filme se baseia numa histórial real. E o letreiro acrescenta: em 1961, a URSS tinha um arsenal atômico capaz de destruir a Terra duas vezes. Os EUA multiplicavam esse poder de fogo por cinco e podiam destruir a Terra dez vezes. É nesse quadro que surge a história do K-19, o submarino nuclear que é o orgulho da Marinha soviética. Mas ele ainda não está pronto, adverte o comandante Liam Neeson nas primeiras cenas, ao cabo de um malogrado exercício de simulação de ataque. Entra em cena o stalinista Harrison Ford, homem de confiança do Partido Comunista, para realizar, a qualquer custo, o exercício que, detectado pelos satélites dos EUA, vai impor um limite aos americanos, mostrando a capacidade de destruição dos soviéticos. O que ocorre é uma sucessão de desastres que justifica o título. O submarino K-19 é chamado de The Widowmaker, o Fazedor de Viúvas. Kathryn Bigelow, ex-mulher de James Cameron, dirigiu filmes como Jogo Perverso, Caçadores de Emoções e Strange Days. O primeiro mostra Jamie Lee Curtis como uma policial masculinizada cujo corpo, quando ela o descobre, delata a feminilidade latente. Essa heroína pós-feminista entra em contato violento com um psicopata - para Kathryn, não há outro contato sexual possível a não ser pela violência. Seria um insulto, talvez, dizer que ela possui uma direção de cena viril, mas é a pura verdade. Um entusiasta de Kathryn, o romancista Guillermo Cabrera Infante - que se assinava Guillermo Cain nos tempos de crítico -, já escreveu que se há um diretor, ou diretora, que conhece seu ofício é ela. É bonita, tem 1,80 m e seu QI é tão alto quanto ela. É uma intelectual num mundo, Hollywood, em que o intelecto não vale grande coisa. Em K-19, Kathryn usa heróis soviéticos para tratar de um tema tipicamente americano: a segunda chance. Ela fez, inclusive, o seu Lord Jim: todo o episódio envolvendo o aprendiz de oficial de reator Vadim faria chorar o próprio Joseph Conrad. K-19: The Widowmaker (K-19: The Widowmaker) - Drama. Dir. Kathryn Bigelow. EUA/2002. Dur. 137 min. 12 anos.

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