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Juventude, droga e prostituição, no filme <i>Candy</i>

Longa que estréia nesta sexta-feira nas salas de cinema do País traz Heath Ledger como um poeta drogado que envolve a namorada em sua viagem autodestrutiva

Por Agencia Estado
Atualização:

Berlinale do ano passado - Heath Ledger chega em clima de já ganhou, como presumível melhor ator, por seu papel em Candy, o concorrente australiano ao Urso de Ouro. No final, nem o filme nem o ator foram vencedores. O Urso de Ouro foi para Em Segredo (Grbavica), da bósnia Jasmila Zbanic, e o prêmio de interpretação para o alemão Mortitz Bleibtrau, por Partículas Elementares. Mas Heath, naquele dia, parece o que há de mais quente em Hollywood. Seu filme está indicado para o Oscar - O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee - e o jovem viril não tem medo dos prejuízos que o papel de um caubói gay poderá trazer à sua carreira. Ele ousa mais. Em Candy, faz um poeta drogado, que envolve a namorada na sua viagem autodestrutiva. A coletiva é movimentada. Heath Ledger diz que não quer ser galã, mas ator. Não seria um ator, se tivesse medo de encarar desafios como os papéis em Brokeback Mountain e Candy. Geoffrey Rush o elogia como um dos atores mais talentosos de sua geração e o diretor Neil Armfield diz que sem Heath Ledger e a bela Abbie Cornish não apenas não teria logrado a intensidade da paixão que movimenta seu filme, como nem teria tido vontade de realizá-lo. Armfield é diretor de teatro e ópera na Austrália. O que o atraiu na possibilidade de oferecer grandes papéis a jovens atores talentosos foi justamente a vontade de discutir a energia que consome a juventude. "Todos fomos jovens e sabemos o quanto a energia nos torna, nesta fase da vida, contestadores." Dan, poeta interpretado por Ledger, tem um mentor (Geoffrey Rush). Um pouco por influência dele, não dá a mínima para as convenções sociais. Quando conquista a sua Cinderela (Candy, interpretada por Abbie), o príncipe vira sapo. Armfield disse em Berlim que fez seu filme movido pelo sincero desejo de entender esses jovens e a forma como não sabem lidar com seus desejos e necessidades. Mesmo correndo o risco de ser chamado de moralista ou reacionário, ele, que discute a instituição familiar como basicamente repressora, afirmou compreender o desesperado esforço dos pais de Candy para afastá-la de Dan. "O problema é a forma como o fazem. Se há autoridade, o jovem é contra. Mas isso é só um lado da questão. Acho que esse mergulho na destruição reflete uma descrença muito grande que encontro na juventude, mas, a bem da verdade, não é um problema apenas atual. Os jovens sempre quebraram a cara, sempre foram viscerais e radicais. O que acho é que hoje eles têm menos sonhos, acreditam em menos coisas, acreditam menos neles mesmos." O cinema incursionou muitas vezes pelo mundo da bebida e das drogas, retratando o vício. Armfield admite que clássicos de Billy Wilder (Farrapo Humano), Otto Preminger (O Homem do Braço de Ouro) e Jerry Schatzberg (Os Viciados) podem não ter sido referências conscientes, mas são obras que fazem parte do imaginário de cinéfilos de todo o mundo, incluindo ele, pelos novos padrões gráficos que imprimiram ao tratamento da imagem para expressar a vertigem autodestrutiva. Mas ele diz que não quis exagerar no que, ou como, mostrar. "Seria puro sensacionalismo querer ir mais longe do que fomos em nome do realismo." O que foi mais difícil para Heath Ledger - as cenas de sexo com Jake Gyllenhaal em Brokeback Mountain ou as de picadas e as alucinações de Candy? "Nenhuma delas faz parte do meu universo, mas eu não vejo por que tenha de achar que uma pode ter sido mais difícil que outra. Como ator, meu trabalho é experimentar a intensidade que consome meus personagens e transmiti-la para o espectador. Tanto faz que seja um gay, um drogado ou o que as pessoas considerariam um jovem ?normal?. É sempre difícil se projetar no outro, mas é o que faz a profissão de ator tão fascinante. Entender e aceitar o outro é sempre um grande desafio. A gente troca de pele e tem condições de crescer com os personagens que interpreta. O importante é não entrar no papel com nenhuma forma de preconceito." Candy (Austrália/2005, 116 min.) - Drama. Dir. Neil Armfield. 18 anos. Cotação: Bom

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