Júri de Berlim revela incompetência em premiações

James Schamus comandou série de equívocos

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Por Luis Carlos Merten
Atualização:

É uma tradição dos grandes festivais convidar para a festa de encerramento somente os convidados das produções vencedoras. A presença de Wagner Moura na plateia alimentou a esperança de que o belíssimo Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, fosse obter reconhecimento do júri residido pelo norte-americano James Schamus, produtor e roteirista dos filmes de Ang Lee. O ator do longa argentino de Celina Murga, La Tercera Orilla, também estava no Palast, mas, no final, os longas sul-americanos foram esquecidos. La Tercera Orilla não merecia mesmo, mas Praia do Futuro... Schamus on you. Shame on you, Mr. Schamus. Que vergonha! Outorgar o prêmio de melhor ator ao chinês Liao Fan, por Black Coal, Thin Ice já era uma excentricidade. Acrescentar a este prêmio o principal, o Urso de Ouro, foi burrice. O próprio diretor Diao Yinan confessou-se surpreso e disse que era a realização de um sonho que não se atrevia nem a sonhar. Na vertente aberta por Jia Zhang-ke com seu admirável Um Toque de Pecado, o filme aborda a violência na China contemporânea, mas em chave de espetáculo, pagando tributo à mitologia do cinema noir. O detetive particular, a femme fatale. A diferença é que agora falam mandarim. Mas o Brasil, mesmo ausente das deliberações do júri internacional, tem o que comemorar com o longa de estreia de Daniel Ribeiro. Alem do prêmio da crítica na seção Panorama, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho ganhou o Teddy Bear, o Urso de Ouro gay, e foi o segundo preferido do público na segunda sessão em importância da Berlinale. Unir as duas pontas, público e crítica, não representa pouca coisa. O filme sobre o garoto deficiente visual que sai do armário estreia em marco no Brasil, distribuído pela Vitrine Filmes. Guarde a data e o titulo. Alguns prêmios foram defensáveis. Richard Linklater, visivelmente decepcionado, foi o melhor diretor, por Boyhood. A japonesa Haru Kuroki foi melhor atriz pelo filme de Yoji Yamada, The Little House. É o diretor do maravilhoso Família em Tóquio, em exibição em São Paulo. Wes Anderson venceu o premio especial do júri por Grande Hotel Budapeste, que se inspira em escritos (nenhum livro em particular) de Stefan Zweig. E o Prêmio Alfred Bauer, destinado a uma obra que abre perspectivas, foi para Alain Resnais, por Amar, Beber, Cantar. Na verdade, e com o perdão do trocadilho, o júri já dera prova de cegueira - ou incompetência - ao atribuir o primeiro prêmio da noite a outro chinês, Blind Massage, de Lou Ye. A China competia com três filmes - o melhorzinho, No Man's Land, não ganhou nada. A Alemanha, com quatro filmes, só ganhou um prêmio, melhor roteiro, para o longa de Dietrich Bruggemann, Kreuzweg, Estações da Cruz, o mais estrelado nos quadros de cotações. Shame on you! / L.C.M.

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