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Jurados negam Palma de Ouro política em Cannes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Nice Matin é o maior jornal da Côte d´Azur. Nice Matin estampou hoje na capa a manchete: "Uma Palma política". O texto, logo abaixo, diz que o júri fez uma escolha politicamente pouco correta ao premiar Fahrenheit 9/11 de Michael Moore. Não foi o que Quentin Tarantino e seus colegas jurados sustentaram na coletiva na tarde deste domingo. Foi a primeira vez, na história do festival, que o júri foi chamado a explicar a jornalistas de todo o mundo o motivo de suas escolhas. Ao contrário do que se pensava, a idéia não partiu do próprio Tarantino, mas do diretor-geral do evento, Gilles Jacob. Será que ele já sabia que a escolha deste ano seria tão discutida? Discutida, sim, mas por um simples motivo - muita gente gostaria de ver o júri admitir que elegeu o panfleto de Moore para votar contra o presidente George W. Bush. Todo mundo ia reconhecer a importância do prêmio e tudo mais. Mas o júri insiste que votou no melhor e isto não é verdade. Havia filmes melhores do que Fahrenheit - melhores como cinema. O japonês Nobody Knows, de Kore-Eda Hirokazu, por exemplo. O júri votou no garoto do filme para melhor ator. Ele não é profissional, não possui técnica de interpretação, mas seu trabalho é marcante. Como? Perguntem ao diretor. O júri seria mais honesto premiando Kore-Eda como melhor diretor. Uma jornalista brasileira quis saber por que o júri não deu nenhum prêmio para Diários de Motocicleta. A pergunta poderia ter sido formulada de maneira diferente e seria interessante. Afinal, Diários era um dos preferidos do público. A atriz Kathleen Turner, uma das juradas, foi irônica: "Querida, se fôssemos discutir cada filme levaríamos horas". Tilda Swinton foi mais direta: "Não premiamos porque não quisemos". E a conversa morreu ali. Toda a coletiva foi um longo convencimento por parte do júri, tentando dar legitimidade à sua escolha. Ouvimos, o que, evidentemente, já sabíamos: que o documentário pode ser tão ou mais eficiente do que a ficção no tratamento de certos temas. "O filme de Michael nos convenceu porque é verdadeiro, porque nos fez rir e chorar, porque é grande cinema", Tarantino falou curto e grosso. E citou um exemplo - a cena em que um soldado norte-americano expressa seus sentimentos ambivalentes por estar no Iraque lhe parece um exemplo magnífico de cinema em Fahrenheit. É mesmo - mas não se trata de material colhido pelo próprio Moore. Não vale como exemplo de mise-en-scène. Um jornalista francês insistiu se aquilo, apesar do seu valor documentário, não seria televisão? Tarantino saiu do sério. Arrancou os fones da tradução do ouvido e recusou-se a responder, fazendo ´blábláblás´ como criança mimada de quem alguém tenta tirar o doce. Só não foi muito convincente na tentativa de provar que Fahrenheit ganhou por causa do cinema e não da política. O cinema não será sempre uma estética política, até quando não parece ser? Isto, o júri de Tarantino, aparentemente, não estava preparado para discutir. Por meio da assessoria de imprensa, Walter Salles comentou a premiação de Fahrenheit: "Não foi uma surpresa, no sentido em que não há nenhuma interseção entre o cinema que fazemos hoje na América Latina e aquele que Tarantino representa", disse. "De qualquer forma, ter ido para Cannes foi muito bom. O filme foi bem recebido pelo público e pela crítica internacional o que indica que terá vida longa".

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