'Junto, mas separado, e vice-versa'

Assim a atriz Elsa Zylberstein define o belo e premiado filme de Philippe Claudel

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ao longo de uma carreira que começou em 1968, Elsa Zylberstein participou de 50 filmes, trabalhando com diretores de prestígio, como Jacques Douillon, James Ivory, Maurice Pialat e Raul Ruiz. Ela também é conhecida na França como atriz de teatro e, eventualmente, TV, embora, como gosta de dizer, faz "cinema na televisão, o que é diferente". Elsa recebeu o César, o Oscar do cinema francês, como melhor coadjuvante por seu papel em Há Tanto Tempo Que Te Amo.

 

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O belo filme de Philippe Claudel estreia nesta sexta-feira, 26, na cidade, após haver integrado a seleção do 2º Panorama do Cinema Francês no Brasil. Elsa deveria ter vindo ao País, integrando a delegação francesa que viajou para promover o evento. À última hora, teve de desistir, mas conversou pelo telefone com o repórter do Estado.

 

Ela demonstra genuína alegria com a observação que abre a entrevista - para o espectador que assiste a Há Tanto Tempo..., é difícil definir quem está melhor no filme. Elsa e Kristin Scott Thomas dividem a cena, no papel de irmãs. "Que bom que você achou isso! São dois papeis tão fortes e houve uma entrega tão completa, tanto minha quanto de Kristin, que acho que ela também ficaria decepcionada se lhe dissessem que só ela está bem."

 

A própria definição de "coadjuvante" é inexata. Os papéis são equivalentes, mas é verdade que Kristin, por conduzir o relato, aparece um pouco mais. Elsa acrescenta que não houve nenhuma rivalidade artística entre as duas no set. "Ninguém queria aparecer mais. Kristin e eu executamos um duo servindo à partitura de Philippe", ela comenta, valendo-se de uma comparação musical. Ela acrescenta que conhecia Philippe - o diretor Claudel - como escritor. "Ele é muito talentoso. Escreveu livros densos. Havia lido algumas de suas coisas e pensado - seria bom trabalhar todas essas emoções reprimidas. Quando Philippe me ofereceu o papel e ainda disse que o escrevera pensando em min, seria tola se não tivesse aceitado logo."

 

Desde o início, a ideia era de um filme pequeno e, então, Há Tanto Tempo... estourou. "Foi tudo muito inesperado, toda essa exposição. Mas é estimulante que uma história sobre dor e sofrimento, aparentemente tão local, possa se tornar tão universal." Kristin interpreta Juliette. Durante 15 anos, ela não teve contato nenhum com a família, que a rejeitou. E, agora, Juliette está de volta para um difícil convívio. Na verdade, ela passou todo este tempo na cadeia, por haver cometido um crime inominável - veja Há Tanto Tempo... para saber qual foi.

 

Elsa é Léa, que acolhe a irmã em casa, mas seu marido, ao reconhecer o crime reage como talvez reagiria o espectador - cobrando da mulher que a enxote de casa. Mas Léa não pode. Ela tem esse vínculo com a irmã. Como é fazer um papel tão forte? "Existem duas maneiras. Você segue suas emoções ou busca refúgio na técnica. Philippe buscava sempre trazer à flor da pele a emoção contida. Isso exigia preparação, mas em geral rodávamos apenas uma vez, exceto por problemas técnicos."

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No filme, foi Juliette quem esteve na cadeia, mas Elsa conta que encarou o papel como se Léa também tivesse compartilhado daquela prisão por muito tempo. "O drama de Léa é que ela foi forçada a se assumir como adulta, mas no interior ela sempre foi a caçula e agora isso aflora com intensidade."

 

Falar sobre família é uma coisa que agrada a Elsa. "Sou filha de um pai judeu polonês e uma mãe católica. Gostava de me definir como judia, mas hoje em dia sou budista por opção. Você pode imaginar que sofrendo na pele as influências judaica e cristã eu tenha tido uma infância exasperante, mas não. A família pode ser uma bênção ou uma maldição. A minha, malgrado as tensões culturais e religiosas, ou talvez por elas, me estimulou a buscar meu caminho." Como ela define Há Tanto Tempo...? "É um filme sobre o sentimento de estar junto, mas separado, e vice-versa. Isso me parece tão real."

 

Serviço

 

Há Tanto Tempo Que Te Amo (França-Alemenha/ 2008, 115 min.) - Drama. Dir. Philippe Claudel. 14 anos. Cotação: Bom

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