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'Júlio Sumiu' tanto pode ser uma comédia de erros quanto uma escalada no absurdo

O apelo do filme Júlio Sumiu talvez venha mesmo de Lília Cabral

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Para início de conversa, é bom ir logo esclarecendo – na entrevista acima, Lília Cabral diz que Júlio Sumiu não é uma comédia cacacá, daquelas que vai fazer o público cacarejar de tanto rir. E não é mesmo. Sua riqueza não está na orquestração da piada verbal ou visual, que parece fácil, mas não é. O gag exige um tempo, uma armação que não é o que mais interessa ao diretor Roberto Berliner. Ele veio do documentário. Só a ficção já seria uma novidade, mas uma comédia...

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Júlio Sumiu é um filme de história e de personagens. Lília faz a mãe cujo filho desaparece. Ele não dormiu em casa, não deu notícia e para ela a tragédia está formada. O outro filho se mete numa confusão com um traficante – ele ‘toma’ maconha, como mamãe diz – e um telefonema faz com que ela tenha a confirmação do que teme. Júlio foi sequestrado. A partir daí, a situação escapa ao controle e Júlio Sumiu tanto pode ser uma comédia de erros quanto uma escalada no absurdo.

O pai é um militar reformado, o outro filho é maconheiro e mamãe, no desespero, sobe o morro para encontrar o traficante, que lhe confia a guarda de 20 quilos daquele pó branco que não é açucar nem farinha. Dizer que não dá para rir em Júlio Sumiu é mentira porque a cena em que Lília e o austero marido enfiam a cara no pó é hilária.

Carolina Dieckman solta a sexualidade que reprimiu em Entre Nós, de Paulo e Pedro Morelli, e faz a periguete que também é delegada auxiliar. Na dupla função, ela passa a delegacia e o morro em revista. Mas tem o delegado que não dá no couro com ela, nem com o suporte técnico da pílula azul. O motivo – na hora H, ele se lembra do que lhe disse Lília Cabral na delegacia, quando foi lhe pedir ajuda (e ele a negou).

Como Lília Cabral insiste na entrevista, Júlio Sumiu é um filme de história e de personagens. Suas qualidades aparecem quando se olha o filme por aí. Para rir, o espectador de comédias brasileiras dispõe de S.O.S. Mulheres Ao Mar, de Chris D’Amato, que, para dizer a verdade, também faz observações interessantes sobre a condição das mulheres no País. O que tem havido é o seguinte – comédias de grande sucesso que os críticos, em geral, detestam e comédias como Vendo ou Alugo, de Betse de Paula, que os críticos amaram – e até premiaram –, mas à qual o público não aderiu. O apelo do filme Júlio Sumiu talvez venha mesmo de Lília, como mãe apreensiva que se transforma ao longo do filme. Não é que mamãe seja, aqui, uma peça. Mas mãe é mãe, como você sabe.

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