Jovem dupla de vencedores encontra-se na Mostra de SP

Um encontro com Caru Alves de Souza e Fernando Coimbra, que ganharam o Festival do Rio com ‘De Menor’ e ‘Lobo Atrás da Porta’

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ambos ganharam o mesmo edital de BO, baixo orçamento, participaram do Festival de San Sebastián, venceram o do Rio. Neste sábado, 19, os filmes de Caru Alves de Souza, De Menor, e Fernando Coimbra, Lobo Atrás da Porta, passam no mesmo horário (em salas diferentes, claro), na Mostra. A singularidade dessa trajetória que se toca é reforçada por mais um ou dois aspectos. Caru e Coimbra são figuras destacadas da nova geração de diretores, ambos estreantes, e os dois estão fazendo um cinema narrativo. De Menor e Lobo possuem histórias fortes, que os diretores contam com vigor, mesmo que não seja pela via tradicional. “Desenvolvo dois projetos que também são narrativos, mas isso não me impede de amanhã ou depois fazer um filme de linguagem”, anuncia Caru. Coimbra concorda. “A liberdade criativa é o limite. Inclui diversidade.”

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O curioso é que – tão perto, tão longe, como diria Wim Wenders – Caru e Coimbra ainda não tiveram tempo de ver os filmes um do outro. “Vamos ver na Mostra.” O fato de terem dividido o Redentor de melhor filme não os incomoda. “Não sinto como se tivesse ganhado meio prêmio”, ela brinca. “E ganhar um Festival como o Rio dá prestígio. A gente pode colocar no cartaz. Aumenta a curiosidade das pessoas. Um monte de gente, aqui na Mostra, vai querer ver nossos filmes porque vencemos a Première Brasil (o Festival do Rio)”, ele acrescenta.

Caru é filha de cineastas – Tata Amaral e Francisco César Filho. Inspirou-se nas histórias que a prima, advogada na Defensoria Pública de Santos, lhe contava. A protagonista cuida de um garoto que passou pela Vara da Infância e Juventude. Possuem uma relação forte, mas ele comete um crime e a situação complica-se. Até por dividir com a mãe tarefas de produção na Tangerina Filmes, Caru ia mostrando a Tata as etapas da realização e da montagem. Ela conta uma história de um filme anterior, um documentário. “Tudo o que ela me sugeria para trocar, eu ia no sentido contrário.” Apesar disso, garante que a relação é boa “e ela (a mãe) me diz coisas que acrescentam”.

Segundo Coimbra, Lobo nasceu em sua vida há 15 anos. “Em 1999, eu era ator de José Celso (Martinez Corrêa) e ele me mostrou uma revista contando a história conhecida como da Fera da Penha. Desde então, aquilo ficou comigo.” Não é que Coimbra tenha tentado fazer o filme este tempo todo. Ele fez outras coisas, mas a história, que escreveu sozinho, sempre voltava. A “Fera” já havia inspirado outro filme nos anos 1960. Na história real, mulher sequestra e mata a filha do ex-amante para se vingar.

Ambos descrevem seu processo. Caru não escreve propriamente um roteiro, mas faz anotações. “Afinal, eu escrevo, eu vou dirigir. Gosto de discutir as cenas com os atores, incorporar a criatividade deles.” Coimbra, depois de ser ator para Zé Celso, adaptou com ele Os Sertões. Apesar da diferença das mídias, garante que escrever diálogos para teatro lhe deu segurança no cinema. Mas, como Caru, diz que é aberto a mudanças. Lobo é narrado por flash-backs. Um deles, o ponto de vista de uma personagem do triângulo amoroso – marido, mulher, amante –, caiu inteirinho. Coimbra cortou sem dó, visando a eficiência.

É curioso que, sendo ambos de São Paulo – Coimbra é do interior do Estado –, tenham vencido no Rio, e o filme dele se passa no subúrbio carioca. “Fiquei lá um tempão absorvendo a paisagem e a fala.” Ambos elogiam os elencos – Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabíula Nascimento, em Lobo; Rita Barata e Caco Ciocler, em De Menor. Dividir o Redentor foi bem. Na Mostra há um prêmio em dinheiro, o Itamaraty. Aqui, o bicho pega. “Esse dinheiro pode ser decisivo no lançamento.” Nem por isso vão fazer campanha um contra o outro, divertem-se.

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