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Jorge Fernando abre alas para 2004

Diretor consagrado na TV comenta sua estréia no cinema com a comédia Sexo, Amor & Traição

Por Agencia Estado
Atualização:

É uma pena que o diretor Jorge Fernando não possa estar presente no início de todas as sessões de seu filme Sexo, Amor & Traição, que estreou ontem em 154 salas de todo o País. Nas pré-estréias para convidados, no Rio e em São Paulo, a performance de Jorge Fernando foi decisiva para a descontração que caracterizou as sessões. Ele subia ao palco e, em clima de alto-astral, pedia ao público que soltasse a mãozinha e relaxasse. Com a mãozinha solta fica fácil entrar no clima de mais essa comédia carioca que toma agora de assalto as telas de todo o País. Sexo, Amor & Traição é uma produção da Total Filmes, empresa do Rio que vem desenvolvendo um projeto industrial para o cinema brasileiro. O negócio de Walkiria Barbosa, Iafa Britz e seus associados não é arte, mas diversão. No quesito arte, os cinco sócios - Wilma Lustosa, Marcos Didonet e Marc Bechar são os outros - preferem concentrar seus esforços na co-realização do Festival de Cinema do Rio. Nos filmes que produzem, querem faturar, mas o fazem investindo em produções tecnicamente bem acabadas e que ostentam inegável sofisticação visual. Os críticos odiaram Avassaladoras e, com toda certeza, vão falar mal de Sexo, Amor & Traição. "Estou preparado para as críticas", diz o diretor estreante Jorge Fernando, que dá uma alfinetada: "Eles falam mal, mas muitos foram flagrados rindo, durante as exibições para a imprensa." Acostumado a trabalhar com produtos de massa - novelas de TV e shows -, Jorge Fernando sabe que não está fazendo nenhuma grande obra de arte. "Mas é um produto honesto, feito com carinho e, espero, que também com competência." Aos 40 e tantos anos, ele inicia nova carreira, no fundo a que sempre sonhou, como diretor de cinema. O convite veio de Daniel Filho, diretor da Globo Filmes, e foi imediatamente encampado por Walkiria, colega do diretor no tempo em que o secundário ainda era ginásio. Walkiria, que admira o pique chanchadeiro do diretor na Globo, convidou-o para fazer o remake do filme mexicano Sexo, Pudor e Lágrimas, que arrebentou nas bilheterias do México (e cujos direitos adquiriu por meio de um acordo de intercâmbio e da empresa Titán). Jorge Fernando aceitou antes mesmo de saber do que se tratava. Quando leu o roteiro, caiu duro: "Caraca!", exclamou. Achou que a história de dois casais na Cidade do México atual não tinha nada a ver com ele. E tratou de abrasileirar o material: "Tirei o pudor e as lágrimas e coloquei o amor e a traição, para ficar mais com a nossa cara." Revela que não teve dificuldade no trabalho com a câmera, mas sabe que vêm daí algumas das críticas que seu filme já está recebendo. "Dizem que estou fazendo TV no cinema." No dia da pré-estréia no Rio, Jorge Fernando deixou a platéia do Cine Odeon esperando por mais de meia hora. "Gravei hoje 30 cenas da novela no Projac" - refere-se a Chocolate com Pimenta e ao centro de produção da Globo. Em comparação, o ritmo mais lento do cinema, duas ou três cenas por dia, com cuidados especiais na armação do plano e na condução do elenco, é "mamão com açúcar", define. Podem falar mal de tudo que Jorge Fernando não se ofende, menos do seu elenco. Ele se esforçou para empregar os atores de forma criativa e original, muitas vezes contrária à sua imagem tradicional. "A Heloisa Perissé tem aquela voz estridente, que eu tornei mais grave; o Fábio Assunção é ótimo como canalha sedutor; e o Marcelo Antony..." Justamente Marcelo Antony - faz o gay mais desmunhecado do cinema brasileiro recente. "Me acusaram de estereotipar. Logo eu, que entendo do babado? Existe todo tipo de gay, desde o que está no armário até o que roda a baiana. O Marcelo, como Nestor, roda a baiana." Ele não poupa elogios a Caco Ciocler e Alessandra Negrini e, claro, cai de joelhos diante de Malu Mader e Murilo Benício. "O Carlos, personagem do Murilo, é um cara chato e careta. Precisava de um ator carismático para contrabalançar. E a Malu é amor antigo." Nunca havia trabalhado com ela. Trafegam, na TV, em universos distintos. Jorge Fernando, numa linha de chanchada, de autores como Sílvio de Abreu. Malu faz mais a heroína classuda de Gilberto Braga. "O bom da Malu é que ela muda permanecendo sempre a mesma. E ousa. Não tem pudor, o que vem de encontro ao que eu queria." Embora com momentos divertidos, o filme mexicano tendia para o dramalhão ao contar a história de dois casais em crise. Jorge Fernando eliminou logo o dramalhão e transformou em comédia - em chanchada - as puladas de cerca e as dificuldades da vida a dois. "Tinha um problema com o final, mas acho que resolvi bem a situação do Fábio Assunção." Jorge Fernando introduziu cacos, frases sobre o amor que expressam o que pensa sobre o assunto. Uma delas é que é possível dizer duas vezes ao dia "Eu te amo", para pessoas diferentes, sem estar mentindo para nenhuma das duas. "É uma comédia, mas não é boba. O filme estalou na minha cabeça quando vi que, com algumas mudanças, tinha uma boa história e podia subverter os personagens para falar, de forma divertida, de uma realidade maior, uma angústia maior, que é a de como se relacionar com alguém, nos dias de hoje."

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