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‘Jogo de Emoções’, de David Mamet, é relançado em DVD

Interessante thriller psicológico de 1987 marca a estreia do dramaturgo David Mamet na telona

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Jogo de Emoções (1987), filme de estreia do dramaturgo David Mamet, é um interessante thriller psicológico. Envolve, de um lado, uma psicóloga de sucesso, e, do outro, um grupo de trapaceiros, especialistas em livrar otários do seu dinheiro.

Como essas figuras heterogêneas se cruzam e passam a conviver? Da maneira a mais incrível. Um dos pacientes da doutora Margaret Ford (Lindsay Crouse, então casada com Mamet), jogador compulsivo, diz à terapeuta que pretende se matar. O motivo? Perdeu dinheiro no jogo, não tem como pagar a dívida e os credores prometem matá-lo. Margaret faz, então, o que nenhum terapeuta deveria – mete-se na vida real do paciente sob seus cuidados. Descobre o lugar onde funciona o antro do jogo no qual ele perdera o dinheiro, conhece o homem a quem seu cliente deve e passa a observar os costumes do local. Numa palavra, fica fascinada por um ambiente sórdido e envolvente, do qual nunca antes tivera notícia.

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Um dos malandros, em especial, exerce atração sobre a doutora. É Mike (Joe Mantegna), com o qual ela se envolve e não apenas como objeto de, digamos, curiosidade científica. Certo, ela observa como o gatuno age para enganar os trouxas e extorquir-lhes dinheiro. Mas o homem também a interessa, e de maneira particular. Em breve ela estará perigosamente envolvida na teia do submundo do crime.

Como acontece muito com os trabalhos de Mamet, Jogo de Emoções parece muito trabalhado. Às vezes trabalhado até demais, o que significa que é inteligente a ponto de parecer artificial. A trama vai se tornando a cada volteio mais intrincada, de modo que será preciso também muito artifício na hora de deslindá-la. Em certo sentido, por suas reviravoltas e complexidade parece ter servido de inspiração ao argentino Nove Rainhas, de Fabián Bielinsky, também sobre o mundo da malandragem e dos contos do vigário.

Mas Mamet é também fino observador da psicologia dos personagens. Tão interessante como a ação dos malandros será a maneira como Margaret se enreda e se transforma no contato com eles. Ela é uma psicóloga e deveria conhecer os meandros da mente humana. Mas Mamet mostra como se pode ter grande conhecimento sobre a cabeça alheia e nada saber da própria. Desse modo, por ser talvez inteligente demais, e curiosa em demasia, Margaret revela-se também uma presa fácil e manipulável. Sua capacidade de aprendizado, no entanto, não deve ser minimizada.

O Jogo de Emoções, em que pesem seus limites, deve ser observado com atenção. Mamet não é um cineasta banal e não está aqui produzindo apenas uma trama interessante de entretenimento. Há toda uma reflexão embutida sobre o mal e como este pode ser contagioso num determinado tipo de sociedade como a que retrata. 

De certa forma, o trapaceiro é aquele que melhor domina as regras do jogo e sabe fazê-las funcionar a seu favor. Essa visão lúcida e bem pouco moralista (sobretudo em seu desfecho) fazem de O Jogo de Emoções um filme invulgar. O lançamento em DVD pela Versátil traz bons extras como depoimentos do elenco e um documentário sobre o filme.

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