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Jogo de aparências de Eça seduz diretor

Para Carlos Carrera um dos grandes trunfos do filme é a dupla de protagonistas, Ana Claudia Talancón e o jovem Gael Garcia Bernal, que interpreta Che Guevara no filme de Walter Salles

Por Agencia Estado
Atualização:

Carlos Carrera é considerado hoje no México um dos cineastas mais promissores da atualidade. Com apenas cinco longas-metragens no currículo, conta a favor de sua fama o mais recente, o polêmico O Crime do Padre Amaro, atualização do romance homônimo do escritor português Eça de Queirós. Por conta da polêmica história do envolvimento amoroso entre um jovem padre e uma fiel, o filme atraiu a ira da Igreja e a curiosidade do público, convertendo-se na maior bilheteria da história do cinema mexicano. Não por acaso, foi escolhido pelo seu país como representante na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano. Em entrevista à Agência Estado, por telefone, de Los Angeles, Carrera conta que o livro de Eça de Queirós chamou-lhe atenção pelo enredo. Por trás do romance entre Amaro e a jovem fiel de sua paróquia, no interior do México, há uma crítica não só à imposição do celibato aos sacerdotes pela Igreja Católica, mas também ao jogo de aparências e a hipocrisia generalizada que ronda esse estado de coisas. "É um tema que me interessa particularmente", diz ele. "Além de ser um veículo para falar de outros problemas da atualidade, como a ligação de setores ditos saudáveis da sociedade com o tráfico de drogas e coisas assim." Para Carrera, um dos grandes trunfos do filme é a dupla de protagonistas, o jovem Gael Garcia Bernal e Ana Claudia Talancón. Ele destaca especialmente o envolvimento de Gael, que se dedicou bastante ao projeto e chegou a se consultar com jovens padres para estudar seu comportamento. "Ambos mergulharam na proposta e foram muito bem durante as filmagens" diz o diretor. "Está claro quando estão em cena juntos: a química deles é perfeita, funcionaram muito bem na tela." Carrera teve dificuldades para fazer O Crime do Padre Amaro. Demorou cinco anos até conseguir financiamento para poder rodar e concluir o filme. Internamente, enfrentou o medo de possíveis co-produtores, que não queriam problemas com a Igreja. No exterior, o problema era outro. A história parecia pouco atrativa. "Diziam para mim que a vida de um sacerdote não tem tanto interesse para o público", relembra o diretor. Só os espanhóis, os franceses e os argentinos se atreveram a apostar. "E foram recompensados", arrematou ele, carregando no tom orgulhoso. As reações ao filme variaram de lugar para lugar. No México, o protesto imediato da Igreja Católica converteu-se em uma espécie de recomendação. Não houve quem não ficasse curioso. "O que mais me impressionou foi o fato de terem se pronunciado sem ao menos vê-lo", diz Carrera. "O fato é que, quando viram que a propaganda negativa não estava funcionando, praticamente se calaram." Em outro país latino e católico, El Salvador, o lançamento de O Crime do Padre Amaro guardou características especiais. O filme foi exibido somente em sessões noturnas. "E não deixaram os jornais publicar críticas favoráveis", conta Carrera. Na Espanha e no Chile, foi muito bem. Sua expectativa para o Brasil? "Espero que o público se interesse e goste."

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