Jeannette Walls fala sobre sua família problemática no livro 'O Castelo de Vidro', que vira filme

Adaptação para o cinema, dirigida por Destin Daniel Cretton (Temporário 12), acaba de estrear no Brasil

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Por Mariane Morisawa
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LOS ANGELES - Jeannette Walls era colunista da revista New York quando, do banco de trás de um táxi, viu sua mãe revirando lixo na rua. Rose Mary e o pai da jornalista, Rex, tinham virado sem-teto em Nova York, depois de anos de mudanças constantes de cidade e moradia em casas sem as mínimas condições, carregando junto os quatro filhos - além de Jeannette, Lori, Brian e Maureen. A colunista frequentava as altas rodas da cidade e escondia seu passado. Mas ali virou plano a vontade de colocar sua vida no papel. Assim nasceu O Castelo de Vidro, lançado pela editora Globo no Brasil. A adaptação para o cinema, dirigida por Destin Daniel Cretton (Temporário 12), que acaba de estrear no Brasil. “O livro me lembrou tanto da minha vida, não porque tenha passado pelas mesmas coisas, mas pelas emoções e questionamentos que levanta - o que seus pais inevitavelmente passam para você, seja bom ou ruim, e como você aprende a se definir baseado nisso”, disse Cretton em entrevista ao Estado. 

O longa-metragem usa flashbacks para mostrar a infância e adolescência de Jeannette (interpretada em diferentes fases pela ganhadora do Oscar Brie Larson e pelas meninas Chandler Head e Ella Anderson) ao lado de pais nada convencionais, Rex (Woody Harrelson) e Rose Mary (Naomi Watts), mais os três irmãos. Há cenas aterrorizantes, como quando Rose continua pintando quadros quando a pequena Jeannette reclama de fome, e a menina acaba se queimando feio ao tentar cozinhar salsichas. Ou quando Rex, alcoólatra, deixa de colocar comida na mesa para gastar com bebida. E outras ternas, como quando Rex mostra seus planos de construir uma casa de vidro - daí o nome do livro e do filme - com energia solar, um avanço e tanto para os anos 1970 e 1980. 

União. 'Sempre me senti amada e valorizada', garante Jeannette Foto: Paris Filmes

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O mais impressionante é como não há julgamentos por parte de Jeannette, que consegue ver os pais com afeto. “Veja onde estou, veja minha vida agora. Se você está onde queria, como pode ter raiva da maneira como chegou lá?”, disse. “Meus pais eram pessoas com problemas. Minha mãe não conseguia cuidar de si mesma, como poderia cuidar de mim?” Ela prefere a palavra aceitação a perdão. “O que não significa aprovação, mas o entendimento de que essas pessoas tinham limitações. Sempre me senti amada e valorizada.” Naomi Watts, que conversou muito com Jeannette e chegou a se encontrar com Rose Mary, que hoje mora na fazenda da filha, também acabou entendendo a perspectiva da mãe. “Eu a cumprimento pela criatividade, o otimismo, o encorajamento de ser sempre quem você é e contar a verdade. Esses são valores essenciais para dar a uma criança. Claro que Rose falhou em outras coisas.” 

Não que tenha sido fácil para Jeannette escrever o livro e lidar com todas essas falhas novamente. “Quando escrevi, percebi que tinha muita coisa com a qual não tinha lidado. Levei seis semanas para escrever a primeira versão e depois cinco anos reescrevendo, tentando ser honesta comigo mesma.” Tem gente que acha que ela criou certas coisas. “Não dava para ter inventado. Não acho que a verdade é mais estranha que a ficção, mas tem mais nuances, contradições. Não saberia inventar minha mãe.” 

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