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James Dean homenageado nos 50 anos de sua morte

Três clássicos estrelados pelo ator - Vidas Amargas, Assim Caminha a Humanidade e Juventude Transviada, que será exibido pelo SBT - serão lançados em DVD

Por Agencia Estado
Atualização:

Long Look at a Short Life - um olhar longo sobre uma vida breve. Com este título, a revista Variety, que comemorava cem anos, e o Festival de Cannes associaram-se para homenagear James Dean no 50.º ano de sua morte. Havia, nos corredores do palais (no Grand Théâtre Lumière e na Sala Claude Debussy), uma exposição de fotos do astro americano que continua encarnando, na tela, o protótipo do rebelde incompreendido. Algumas dessas fotos eram aquelas que já se tornaram icônicas; outras, a maioria, eram raras, revelando um James Dean como você nunca viu, principalmente em flagrantes colhidos em Fairmont, Indiana, onde ele nasceu. E houve o documentário James Dean: Forever Young, de Mike Sheridan, que integrou a seleção oficial. Narrado por Martin Sheen, o filme recorre a farto material de arquivo e a entrevistas para tentar elucidar o mistério Dean. O que faz com que ele, 50 anos após sua morte, permaneça como um dos mitos mais duradouros do cinema? Em todo o mundo, estão preparados eventos para assinalar a data exata (30 de setembro) do acidente que, roubando a vida de James Byron Dean, perpetuou a imagem eternamente jovem que o cinema continua fornecendo dele. A Warner Home Video vai lançar uma caixa com os três clássicos estrelados pelo ator - Vidas Amargas, de Elia Kazan; Juventude Transviada, de Nicholas Ray; e Assim Caminha a Humanidade, de George Stevens - em versões restauradas e masterizadas digitalmente. A essas preciosidades deverão somar-se horas de material inédito e o documentário de Sheridan, produzido pela própria Warner. As comemorações começam na semana que vem, em Marion, Indiana, que realiza de 3 a 5 o James Dean Festival. Existe um site para quem quiser acompanhar todo o evento. No SBT, você pode (re)ver na madrugada de hoje para amanhã (4h15) justamente o clássico Juventude Transviada. O título original do filme de Nicholas Ray é Rebel Without a Cause. É enganoso. Durante todo o tempo, Ray e o roteirista Stewart Stern contextualizam a rebeldia do personagem de Dean. Ele se chama Jim Stark e existem causas profundas que explicam e até justificam, de forma não didática, o seu comportamento. Em 1955, o mundo estava mudando. Na trilha aberta pelo morticínio da Segunda Guerra Mundial e, depois, pela Guerra da Coréia, havia uma juventude que não queria mais ser bucha de canhão. Toda uma geração de diretores contestava o sonho americano de sucesso e dinheiro e, neste quadro, surgiram o rock?n?roll e os motoqueiros de jaqueta preta de couro, cujo representante definitivo foi o Marlon Brando de O Selvagem, de Laslo Benedek, de 1953. Nas pegadas de Elvis Presley e do jovem Brando, James Dean surgiu como um meteoro. Foi um meteoro que cruzou o céu de Hollywood. Dean já havia feito pequenos papéis em filmes de Samuel Fuller e Douglas Sirk (Baionetas Caladas e Sinfonia Prateada) e participado de cerca de 40 produções de TV, entre elas The Dark Dark Hour, contracenando com o futuro presidente Ronald Reagan, mas oficialmente ele surgiu em 1955, quando estreou Vidas Amargas. Seu reinado foi um dos mais breves do cinema. Seis meses depois, quando estreou Juventude Transviada, Dean já estava morto. Morreu dias antes do lançamento do filme de Ray, num acidente de carro numa estrada do Texas. Até isto contribuiu para o mito. Dean amava a velocidade, os carros de alta potência. Queria viver rapidamente, perigosamente, até o fim. Virou o emblema no qual se espelharam Jean-Paul Belmondo na França, Zbigniew Cybulski na Polônia, Steve McQueen nos EUA e tantos outros jovens atores em todo o mundo. A morte brusca imortalizou-o. James Dean viveu apenas 24 anos, mas sua imagem permanece viva e ajuda a vender tudo - jeans, camisetas, carros, cerveja. Não era isto o que ele propunha ou representava. Antes mesmo que corram os créditos iniciais de Juventude Transviada, Dean surge cambaleando, bêbado. Jim Stark cai no pavimento da rua. É levado à delegacia. Logo em seguida é solto e tem a primeira briga com os pais. Nicholas Ray foi um grande diretor romântico atraído por rebeldes e outsiders. Seus (anti)heróis são frágeis, mas não necessariamente neuróticos. Jim Stark é rebelde e solitário. Encontra sua alma gêmea em Natalie Wood. E vira o modelo no qual Plato (Sal Mineo) se projeta. O grande desafio de toda essa geração era superar os ritos de passagem e entrar na idade adulta sem assumir os valores materiais que os EUA já vendiam em 1955. Todos os conflitos explodem na excepcional cena do observatório, quando Jim, Natalie e Plato se evadem olhando as estrelas distantes. Plato quer que Jim e Natalie sejam a sua família. Vira alvo de uma implacável caçada policial. Na ótica de Ray e de seu roteirista, se há um rebelde sem causa no filme, é Plato. E tudo sai dali, de James Dean. Os hippies dos anos 1960, os jovens que morriam no Vietnã, sob o napalm, nos 70, os punks, por volta de 80. A rebeldia de Dean foi sendo radicalizada, antes de ser diluída. O próprio James Dean era cria do Actor?s Studio, a célebre escola de arte dramática na qual Lee Strasberg verteu, para os EUA, o método de Stanislawski, que acreditava que o ator tem de procurar em si mesmo as motivações dos personagens que interpreta. O personagem, no método, constrói-se de dentro para fora, não a partir da técnica, mas da emoção. Dean é pura emoção em cena. Sua intensidade dramática traduz-se numa crispação do corpo. É dilacerante ver o que ele faz com as mãos. Não adianta falar na voz, quando chora, porque Juventude Transviada vai passar dublado. É um overacting de brilho insuperável. Dean, como Brando, não era um ator naturalista. Um crítico disse certa vez que ele formatou as tábuas da lei do inconformismo. Sua alienação era criativa e iluminada. Apontava para alguma coisa. Hoje, na era pós-pasteurização, o eterno rebelde arrisca-se a virar um objeto de consumo não crítico. Isto é contrário ao espírito de Dean. Felizmente, existem os filmes, como o de Ray, para manter vivo o espírito do que ele representava.

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