Jackie Chan vai à luta em Londres

O astro das artes marciais combina mais uma vez ação e humor em Bater ou Correr em Londres, que chega hoje ao circuito nacional

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Por Agencia Estado
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Jackie Chan foi uma das sensações no Festival de Berlim deste ano. Foi mostrar o documentário Jackie Chan´s Secret Family. Quando Hong Kong foi reintegrada à China, o astro de artes marciais descobriu que tinha uma família no país. Não sabia de sua existência. A história dessa integração familiar serve para uma discussão sobre a nova China capitalista. Jackie Chan era antes um astro local. Mas seus filmes em Hong Kong ganharam cada vez mais público em todo o mundo. Hollywood não ia perde uma mina dessas. Importou Jackie Chan e agora ele faz mais de seus filmes americanos. Shanghai Knights ganhou no Brasil o título de Bater ou Correr em Londres, forçando a barra da aproximação com a série Bater ou Correr, que já levou o astro a Nova York e Barcelona, para citar apenas dois cenários de suas aventuras. Mas o original, traduzido, quer dizer: Cavaleiros de Londres. Quando o filme começa, o pai do herói é assassinado na Cidade Proibida. É o guardião do brasão imperial, o selo que identifica o imperador da China. É morto por um estrangeiro, um inglês, que fez uma barganha com o líder da corrente dos boxers: ele o ajuda a conquistar o trono chinês e, em troca, o vilão oriental o ajuda a saltar do décimo lugar na linha de sucessão do trono inglês para a poltrona ocupada pela Rainha Vitória. Para encurtar a trama, o herói, que ainda está no Velho Oeste, cenário de sua última aventura, recebe uma carta da irmã, que o convoca para ir a Londres, onde ela já se encontra, disposta a vingar o pai. Jackie Chan, que se chama Chon Wang, passa por Nova York para apanhar o parceiro O´Bannon (Owen Wilson). Forma-se um trio, pois a garota, Lin (Fann Wong), é boa de briga. Nada disso difere muito das aventuras anteriores de Jackie Chan e o filme, como sempre, explora a incrível habilidade do ator e lutador para criar cenas clownescas, em que a coreografia da violência que ele executa vem embalada no gag. É uma violência cômica, para divertir. Se você não aceita que o cinema tem uma dimensão lúdica, desista de Jackie Chan. Sua mistura de ação e humor não é feita para estimular grandes reflexões sobre a arte e a vida. Em compensação, o filme não é pretensioso ? e pífio ? como Gangues de Nova York, que poderá valer, escandalosamente, o Oscar de direção para Martin Scorsese, pelo pior trabalho de sua carreira. O diretor David Dobkin veio da publicidade e do videoclipe. São linguagens que tendem a destruir o espaço real dramático por meio da montagem ? algo que remonta, lá atrás, a Eisenstein, quando seu método se inviabiliza ?, mas ele não chega a tanto porque lhe interessa mostrar a construção do gag e a coreografia da ação. E o que Bater ou Correr em Londres tem de divertido são as referências a Jack, o Estripador, a Sherlock Holmes e Conan Doyle, a um certo Charles Chaplin. No final, vão todos para a Califórnia, atraídos por um novo negócio que está surgindo, o cinema. Um negócio ? não se fala em arte. Jackie Chan é um palhaço honesto.

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