O cineasta Walter Salles mantém uma íntima relação com a obra do escritor americano Jack Kerouac, cujo centenário de nascimento é lembrado neste sábado, 12. Assim, em 2012, ele decidiu adaptar o mais conhecido dos romances de Kerouac, On The Road.
É a dilacerante história de uma amizade rompida, mas que se eterniza na arte. Comose trata de uma obra mítica, cuja fama sobrepuja suas qualidades literárias, o filme é um visão particular e, ao mesmo tempo, aberta do livro.
A convite do Estadão, Salles fez uma reflexão sobre a importância que On the Road ainda tem para ele.
"Há um antes e depois de Kerouac na forma de descrever o mundo. A América conservadora e racista dos anos 50 se viu de repente frente à uma escrita sensorial, ritmada pelo batimento do Jazz de Charlie Parker, Miles Davis e John Coltrane. Um fluxo narrativo habitado por personagens imperfeitos, e por isso mesmo profundamente humanos.
Havia também a coragem de viver como os personagens que descreviam, uma coerência entre a palavra e a ação, que me impactaram quando li “Na Estrada” pela primeira vez.
Essa mirada acabou ecoando no cinema independente, em filmes tão vitais como os de John Cassavetes (como “Shadows”)e Shirley Clarke, que por sua vez influenciaram a geração de Jim Jarmush e Gus Van Sant. E na música, a influência foi ainda maior: não haveria Dylan, Patti Smith, Lou Reed, Joni Mitchell sem o movimento de contracultura encabeçado por Kerouac, Allen Ginsberg, Burroughs e Gary Snyder. Esse é um legado que ecoa até hoje."
Walter Salles