<i>Uma Noite no Museu</i>, diversão garantida para a criançada

Nos EUA, o filme arrebentou a boca do balão, há três semanas em cartaz

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Por Agencia Estado
Atualização:

Uma Noite no Museu, de Shawn Levy, é uma produção dirigida para o público infanto-juvenil. A informação é importante para sabermos, de antemão, o que podemos esperar do filme. Segundo os cânones atuais, um produto desse tipo deve ter diversão, muita correria, algum suspense, pouca complicação e um fundo edificante. Produção de Cris Columbus (de Esqueceram de Mim), Uma Noite no Museu tem tudo isso. Todas as variáveis da fórmula se encaixam em seus lugares. O protagonista da história é Larry Daley (Ben Stiller), sujeito que tem vários problemas na vida. Um deles é que não consegue se fixar num emprego. O outro, decorrente deste, é que fica mal aos olhos do filho, a quem vê de vez em quando porque está separado da esposa. Pior: o novo marido de sua ex-mulher é um protótipo daquilo que na sociedade americana se chama de vencedor. Um winner de boa cepa, trabalha na Bolsa de Valores e já está conseguindo certa ascendência sobre o enteado (Jake Cherry). Portanto, arranjar e depois segurar o emprego de vigia noturno no Museu de História Natural é para Larry não apenas uma questão de sobrevivência material, mas principalmente psicológica. O filme tem alguns trunfos interessantes, como a engraçada trinca de veteranos, Michey Rooney, Dick van Dyke e Bill Cobbs, que fazem os vigias noturnos a serem substituídos por Larry. Outro ponto forte, é o sempre engraçado Robin Williams no papel de uma estátua do presidente Theodore Roosevelt, aquele do Canal do Panamá, ideólogo de uma política externa agressiva, quase à la Bush, e partidário daquilo que ele mesmo chamou de diplomacia do "big stick", o popular cacetão. Dizia Roosevelt que, quando não se podem resolver as questões em bases civilizadas, bem, é conveniente dispor de um bom tacape e saber usá-lo na hora certa. Coisas do passado, como se sabe. Mas claro, o Roosevelt do museu que, como seus colegas empalhados, ganha vida durante a noite, não exibirá no filme essa desagradável truculência do personagem real. Ele é todo sabedoria e compaixão. Sofre por ser apaixonado por uma índia de cera e não saber como abordá-la e será o guru de Larry quando este fraquejar. De resto, o museu inteiro se movimenta durante a noite. Esqueletos de dinossauros ganham vida, caubóis combatem legiões de romanos, hunos brigam com mongóis e assim a história universal ganha vida diante dos olhos atônitos de Larry. O problema do filme é como se segurar durante quase duas horas (108 minutos) na base de uma boa sacada só. Daí o fato de surgirem várias "barrigas" para preencher o tempo ocioso. Algumas dessas histórias paralelas até que não são más, como, por exemplo, quando parte dos habitantes do museu decide conferir como é a vida "lá fora". Efeitos especiais Mas, no geral, o tempo é preenchido com correrias dentro do museu, e depois da admiração inicial que o espectador possa sentir diante dos efeitos especiais bem realizados, estes tendem a cansar, pela simples repetição. Outra parte do tempo é gasta no alinhavo melodramático que supostamente dá ao filme seu caráter edificante - a reabilitação do pai diante do filho, uma questão sempre presente em sociedades modernas, com grande número de casais separados. E, mais ainda hoje em dia, com as mulheres há muito senhoras do mercado de trabalho e o papel tradicional do pai, como provedor, conseqüentemente muito fragilizado. No caso mais agudo de Larry, ele tende a ser uma espécie de escória da sociedade americana, aquele tipo de cara que não encontra emprego, e quando encontra, não consegue segurá-lo. Pouco confiável socialmente, não tem credibilidade para ser um pai. Precisa então provar que não é nada disso, domando as aparentemente incontroláveis figuras do museu. E assim o filme ganha seu aval "humanista" e pode se orgulhar de contribuir para algum tipo de mensagem positiva, além de proporcionar honesta diversão. Há outro subenredo também interessante, o da antropóloga triste (Carla Gugino) que não consegue terminar sua tese sobre os primeiros habitantes da América e receberá inesperada ajuda do homem comum Larry Daley. Há toda uma ideologia antiintelectualista embutida aí, junto com a crença na força do homem simples, que consegue lutar contra a adversidade com as próprias mãos. Assim, Larry estará duplamente reabilitado: diante do filho e diante do saber oficial. Enfim, mesmo no mais humilde dos filmes se pode aprender algo sobre o modo de funcionamento mental da sociedade que o produziu. Mas, claro, o que interessa mesmo é se as crianças vão se divertir ou não. E a resposta vem da bilheteria: nos Estados Unidos, Uma Noite no Museu arrebentou a boca do balão - há três semanas em cartaz, continua na ponta da tabela tendo já arrecadado mais de US$ 160 milhões. É o que conta. Vamos ver se por aqui repete a dose. Uma Noite no Museu. (EUA/2006 - 105 min.) - Comédia. Dir. Shawn Levy. Livre. Cotação: Regular

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