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Irmãos Farrelly trocam humor pela pieguice

Diretores do hilário Quem vai ficar com Mary? deixam-se levar pelo politicamente correto e ficam piegas em O Amor É Cego

Por Agencia Estado
Atualização:

Há duas semanas os Farrelly Brothers Bobby e David, estiveram no Rio para lançar O Amor É Cego. O filme estréia nesta sexta-feira num grande circuito nacional. Deve fazer sucesso, mas é decepcionante. Os Farrellys surgiram como o máximo que o cinema de Hollywood poderia produzir (ou tolerar) em matéria de politicamente incorreto. Quem Vai Ficar com Mary? arrebentou nos cinemas e, depois, nas locadoras. Pois bem: os irmãos estão sentimentalizando seu cinema. Perdemos nós, o público. Eu, Eu mesmo e Irene já exibia sintomas dessa pieguice que diluía a incorreção. Apesar disso, o público adorou o filme, havia mesmo algo de comovente no personagem de Jim Carrey, incapaz de aceitar que aquele trio de afro-americanos gordos feito orcas fossem seus filhos. Ele tinha um carinho tão grande ao chamá-los de ´meus filhos´ - e eles retribuíam, um trio de baderneiros, pondo açúcar na palavra ´Daddy´ - que dava para viajar um pouco na trama sobre o policial enganado pela mulher e que, escaldado, reagia com medo ao verdadeiro amor. O problema dos Farrellys é que eles dizem uma coisa e fazem outra. Negam que seu cinema tenha mensagem, dizem que só querem divertir, mas no fundo estão se conscientizado de que o cinema é uma máquina muito forte de formar (ou deformar) mentes e eles acham que devem contribuir para o aprimoramento dos espectadores. Bullshit. Seu cinema está se ressentindo disso. O Amor É Cego chama-se, no original, Shallow Hal. O gordinho e feinho mas simpático Jack Black, que está sendo chamado de "John Belushi do ano 2000", faz o Hal superficial do título. Vive correndo atrás de mulheres lindas que o rejeitam. Um dia, ele fica preso no elevador com um guru da televisão, que detecta seu problema e o hipnotiza. Hal superficial passa, a partir daí, a ver as pessoas só pela beleza interior. Apaixona-se por Gwyneth Paltrow ou alguém que lhe parece ser bonita e sexy como a atriz vencedora do Oscar por Shakespeare Apaixonado. Só que a mulher que ele vê como Gwyneth na verdade é gorda como uma hipopótoma. Ao descobrir a verdade, Hal entra em surto, mas alguém duvida qual será o desenlace de um filme que se chama O Amor É Cego? Mary tinha aquele personagem divertidíssimo do tetraplégico. Era totalmente incorreto, difícil era não rir dele. Há aqui outro aleijado hilariante. Parece que os Farrellys vão seguir a trilha que os tornou famosos. Mas logo vêm os ensinamentos. A bondade, o amor, as criancinhas queimadas, a responsabilidade social. Politicamente corretos, os Farrellys substituem o humor virulento pela pieguice. Por favor, pode-se ter Mary de volta? Serviço - O Amor É Cego (Shallow Hal). Comédia. EUA/2001. Dur.: 113 min. Livre

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