Irã e Hungria disputam prêmio máximo do festival de Berlim

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Por MIKE COLLETT-WHITE
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Parece que a corrida pelo prêmio máximo do festival de cinema de Berlim, o Urso de Ouro, está se concentrando principalmente em dois candidatos: o comovente drama iraniano "Nader and Simin: A Separation" e a sombria história húngara "The Turin Horse". Os críticos presentes no festival anual de cinema situam os dois trabalhos muito à frente dos outros da competição principal no momento em que o festival de dez dias, conhecido como Berlinale, se aproxima da cerimônia de encerramento, na noite de sábado, quando são entregues os prêmios. Mas críticos e o júri frequentemente discordam, fazendo da Berlinale um evento imprevisível que trouxe muitas surpresas nos últimos anos. E quatro dos 16 filmes na competição ainda não foram exibidos. Até a quinta-feira, porém, "Nader and Simin" parece ser o filme que será mais difícil de derrotar, não apenas por sua exploração elogiada da divisão de classes e das tradições religiosas do Irã, mas também porque se encaixa perfeitamente com a "Berlinale iraniana", assim batizada por alguns veículos de imprensa alemães. A edição 2011 do festival começou com chamados do júri e de cineastas para que o Irã autorizasse o diretor Jafar Panahi a viajar a Berlim e aceitar o convite de participar do júri. Acusado de incitar protestos oposicionistas em 2009 e fazer um filme sem autorização, Panahi foi condenado a seis anos de prisão e proibido de fazer filmes ou viajar ao exterior por 20 anos. Sua ausência foi assinalada por uma cadeira vazia ao lado de Isabella Rossellini, presidente do júri, na coletiva de imprensa inaugural. "Justamente quando parecia impossível que cineastas iranianos se expressassem plenamente fora dos limites da censura, 'Nader and Simin', de Asghar Farhadi, vem provar o contrário", disse Deborah Young, do Hollywood Reporter. O filme soma o retrato poderoso de uma família que se desintegra com um thriller criminal através do qual a verdade se revela aos poucos, mantendo a tensão até o último minuto. "The Turin Horse", do diretor húngaro Bela Tarr, é um filme do tipo que ou se ama ou se odeia e vem sendo elogiado pelo retrato intransigente que faz das vidas dolorosas de um agricultor e sua família que vivem sozinhos numa casa escura em uma planície isolada, varrida pelos ventos. Com as tomadas longas que são a marca registrada do diretor, e praticamente sem diálogos, o filme reconstrói a repetição aparentemente interminável do cotidiano dos dois personagens - tirar água do poço, comer batatas, cuidar do fogo, vestir-se, dormir. Rodado em preto e branco, o filme foca o rosto áspero do pai, e, nas palavras de Tarr, que já disse que este seria seu último filme, "é um retrato da mortalidade, com a dor profunda que todos nós sentimos por sermos sentenciados à morte". Houve resenhas positivas de "Margin Call", uma reconstrução do colapso financeiro de 2008 narrada desde o interior de um banco que busca livrar-se de sua dívida podre para continuar solvente. O filme é estrelado por Kevin Spacey, Demi Moore e Jeremy Irons. "Sleeping Sickness", sobre uma família europeia que faz trabalhos humanitários na África, também impressionou alguns críticos. Houve relativamente poucos grandes nomes no tapete vermelho de Berlim este ano, apesar da visita rápida de Madonna à cidade para exibir clipes de sua saga real ainda inédita "W.E.", que ela mostrou a potenciais distribuidores.

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