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<i>O Sol</i>, de Sokúrov, integra hoje programação da Mostra

Serão exibidos também nesta terça-feira a ficção Still Life e o documentário Dong

Por Agencia Estado
Atualização:

Talvez o filme mais interessante para ver nesta terça-feira na Mostra seja O Sol, do russo Alexandr Sokúrov. Ele completa, segundo o diretor, sua trilogia de déspotas, que começou com Hitler e Lênin. Claro, politicamente não dá para levar Sokúrov a sério, pois escolhe seus déspotas a dedo enquanto mostra-se extremamente tolerante (quando não nostálgico) em relação ao czarismo - basta ver A Arca Russa, notável sob outros aspectos. Em todo caso, o seu imperador Hiroito (Issey Ogata) de O Sol pouco lembra um tirano e sim um pobre adulto infantilizado e distante do mundo real. Hiroito é visto no ocaso da guerra, quando o Japão precisa capitular e ele, renunciar à sua condição divina, por exigência dos americanos. Seria a forma de mantê-lo como figura simbólica, decorativa na verdade, em um país ocupado. O que fica do filme é o senso de minúcia de Sokúrov, o trabalho com a imagem inquietante (ele próprio faz a direção de fotografia) e sua habilidade para trabalhar em ambientes claustrofóbicos, os bunkers onde se abrigam seus "déspotas". O relacionamento com o general MacArthur (Robert Dawson), o reencontro com a imperatriz, a possibilidade de entrar em contato com uma vida normal, sem o fardo da divindade, fazem de Hiroito um personagem humano, demasiado humano. Tem, sob a lente de Sokúrov, a densidade de uma figura histórica, mas também a fragilidade de um mortal. Para quem não conseguir ou não quiser visitar o Hiroito de Sokúrov, há uma dupla atração na programação desta terça-feira na Mostra: a ficção Still Life (17h30 no Cinesesc) e o documentário Dong (22h10 no Arteplex 3) do chinês Jia Zhang-Ke. Documentário e ficção - duas modalidades de um mesmo real, filmados na mesma locação: o Vale das Três Gargantas, onde uma vasta extensão de terra foi alagada para a construção de um dique. Alguns milênios de história foram, literalmente, água abaixo e as populações locais perderam suas casas e sua identidade cultural. Num filme, como no outro, Zhang- Ke escancara o preço a pagar pela inserção acelerada da China no mercado global. Still Life ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza deste ano. O Sol. (2005, 110 min.) - Espaço Unibanco 1. Rua Augusta, 1.475 (11) 288-6780. Hoje, 20 h. Sala UOL. Rua Fradique Coutinho, 361 5096-0585. 4.ª, 21h50

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