'Invictus' traz conciliação sul-africana após apartheid

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Quando lançou a autobiografia "Longo Caminho para a Liberdade", nos anos 1990, o líder sul-africano Nelson Mandela foi questionado sobre quem gostaria de ver fazendo o seu papel no cinema. A resposta foi rápida: "Morgan Freeman". Quase 20 anos depois, esse desejo foi atendido. O ator norte-americano de 72 anos faz o papel de Mandela em "Invictus", novo filme de Clint Eastwood que estreia nesta sexta-feira em circuito nacional. Tanto Freeman quanto Eastwood pensaram, a princípio, em adaptar a própria autobiografia do líder para o cinema. Mas deram-se conta de que o extenso material renderia um filme ou minissérie de muitas horas. Eastwood encontrou então o livro "Playing the Enemy", de John Carlin, que focaliza um momento particular na conciliação da África do Sul pós-apartheid: a realização da Copa Mundial de Rúgbi, que o país venceu, contra todos os prognósticos. A vitória serviu como elemento de união nacional. Em fevereiro de 1990, Mandela (Freeman) acabara de sair da prisão, depois de 27 anos. Quatro anos depois, foi eleito o primeiro presidente negro da história de um país onde, por décadas, a maioria negra não tinha quaisquer direitos políticos, sociais e econômicos. Por conta disso, há uma enorme tensão na África do Sul. Do lado dos negros, devido à ânsia de ocupar seu espaço e, em alguns setores, de buscar vingança. Do lado dos brancos, ainda a elite econômica e cultural da nação, medo e desconfiança, quando não alguma tentativa de boicote ao novo governo. Mostrando sabedoria política exemplar, Mandela sabe que terá de satisfazer aos dois lados e conquistá-los. Uma oportunidade se apresenta com a Copa Mundial de Rúgbi. Esporte branco por excelência, o rúgbi é desprezado pela maioria negra, que torce ostensivamente por todo e qualquer adversário do time nacional nas competições. Para piorar, a seleção nacional também não apresenta um desempenho dos melhores. O presidente Mandela enxerga aí uma chance única. Assim, abre uma vaga na sua apertadíssima agenda para receber o capitão do time de rúgbi, François Pienaar (Matt Damon, de "O Desinformante"), o primeiro que ele ganha para a grande causa de vencer a Copa Mundial - uma tarefa que, neste momento, parece simplesmente impossível. A atitude do presidente confunde não só Pienaar, prestigiado membro da elite branca, como seus próprios colaboradores negros. Nenhum dos lados entende o alcance deste esforço. Alguns consideram simplesmente ridículo que o presidente se ocupe de um assunto esportivo num momento em que o país se debate com um dramático déficit de investimentos, além da precariedade da infraestrutura, dos transportes, da saúde e da educação. A inteligência cinematográfica de Eastwood, um diretor que vive uma maturidade criativa excepcional, às vésperas de completar 80 anos (em maio), torna atraente todo este esforço, mesmo para plateias que desconheçam o rúgbi e a política sul-africana. Quando se apresentam os jogos, o filme enfatiza o seu aspecto de disputa de vida ou morte - um detalhe com o qual qualquer fã de esporte coletivo identifica à primeira vista. Assim, não é preciso entender as regras do rúgbi, muito menos gostar do esporte, para acompanhar a história e envolver-se com a enorme batalha protagonizada por Mandela, fora do campo, e Pienaar, dentro dele. Ao explorar as tensões de um país desigual e dividido social, cultural e racialmente, colocando em primeiro plano o esforço de um líder conciliador e visionário, "Invictus" cria paralelos com diversas outras situações e países, em vários momentos da História. (Por Neusa Barbosa, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.