Inverno em Bagdá, documentário do peruano Javier Corcuera, foi um dos filmes mais bem recebidos no Festival Internacional de Cinema de Direitos Humanos encerrado na última quinta-feira, em Nova York. Rodado no inverno de 2004, o documentário fornece um olhar cru e assustador do impacto do conflito na população civil, já que no filme as crianças e os adolescentes são as principais vítimas a narrar suas experiências. "Queria fazer um filme sobre a Guerra do Iraque no qual o olhar das crianças tivesse peso, porque além de serem vítimas diretas são a geração que terá que reconstruir um país em ruínas", disse à EFE o diretor, que vive em Madri desde 1986. O filme inclui entrevistas com uma professora da pré-escola que perdeu suas filhas - e as vê refletidas nos olhos de seus aterrorizados alunos - e os pais de filhos que ficaram gravemente feridos em ataques. O diretor e sua equipe de produção também conversaram com os médicos que atenderam os feridos e mortos nos hospitais e no necrotério de Bagdá, experiências que, segundo Corcuera, nunca esquecerão. O estado de medo cotidiano devido à ocupação norte-americana e a ansiedade diante de um futuro incerto vividos pela população iraquiana são passados através das histórias de quatro adolescentes que tiveram que deixar de estudar para trabalhar e poder sobreviver. "Eles nos fizeram ver, ouvir, sentir o significado da guerra. Porque este não é um filme sobre a Guerra do Iraque somente, é um filme sobre qualquer guerra, sobre aqueles que a vivem, sofrem e morrem, que é a população civil", afirmou Corcuera. O cineasta diz que o que mais o impressionou em Bagdá é seu alto nível de tensão, além da enorme capacidade de reflexão das crianças em relação à guerra e suas conseqüências. "Quando cheguei a Bagdá, onde filmamos por dois meses, me encontrei com uma população civil muito golpeada, com um nível de desespero e estresse tremendo, mas ao mesmo tempo muito carinhosa e receptiva", disse. Para cineasta, é importante que documentário seja visto nos EUA O documentário foi premiado em vários festivais, entre eles os de Málaga, Los Angeles e Montevidéu, e estreará no Peru em agosto. Para o cineasta, é muito importante que o documentário seja exibido e distribuído nos Estados Unidos, já que seus protagonistas "participaram do longa pensando no que a população civil americana veria". "É um compromisso que tenho com eles. Este filme me afeta constantemente, porque a guerra continua e as pessoas com as quais trabalhamos estão em uma situação desesperadora. Cada dia que passa me traz muitas recordações", assegurou. Corcuera diz que o cinema, como outras artes, serve para formar opinião, e que há filmes que têm a capacidade de mudar o ponto de vista das pessoas ou permitem se aproximar por um momento de uma realidade desconhecida. Por isso, considera importante que o filme seja visto nos Estados Unidos, um país que não viu a guerra com tanta crueza. "Quando a projetei aqui, vi que os norte-americanos se surpreendem ao ver de perto a população iraquiana, ver a dona de casa, a professora. Isso chama a atenção deles. Alguns nem tinham visto feridos ou imagens dos bombardeios", disse o diretor.