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"Instituto de Beleza Vênus" celebra mulher de 40

Por Agencia Estado
Atualização:

Poucos filmes celebram tanto a mulher de 40 anos quanto Instituto de Beleza Vênus, de Tonie Marshall. Com Más Companhias, de Jean-Pierre Améris, forma o par de lançamentos importantes da França nos cinemas da cidade, nesta sexta-feira. Tonie fez um belo filme sobre o universo feminino. Cria uma personagem, a de Nathalie Baye, que só não é o sonho de toda feminista porque não resolveu seus problemas afetivos. Mas Nathalie, que no filme se chama Angle, tem uma determinação e uma firmeza que agrada às mulheres maduras. Numa cena de restaurante, ela senta-se à mesa de um homem sozinho, puxa assunto e aplica-lhe uma cantada. Onde vão fazer sexo? "Na sua casa ou na minha?", pergunta. No carro, conclui. Como a vida nem sempre imita a arte, quando o telefone da reportagem tocou na casa de Tonie, na França, ela estava às voltas com o prosaico problema de ter de servir o jantar ao marido e aos filhos. Pediu uma hora. Quando a entrevista começou o assunto não poderia ser outro - como é possível conciliar a cineasta liberada com a dona de casa pressionada por tarefas familiares? "As duas coisas são inconciliáveis", confessa Tonie. "Todo dia me submeto a essa rotina e concluo que ela não enriquece meu trabalho, mas vou em frente, cumprindo a minha dupla jornada, como a imensa maioria das mulheres." Instituto de Beleza Vênus é uma agradável surpresa. É o quarto longa de Tonie e o primeiro a chegar ao Brasil. Ela própria reconhece que é o melhor. Estreou com um filme que pretendia ser uma farsa, mas não achou o tom e acha que foi uma experiência frustrada. Logo vieram Pas trs Catholique, com Anémone, e Enfants de Salaud, com Nathalie Baye. Diz que Nathalie é uma atriz séria a quem, no filme anterior, ela deu um papel com traços cômicos. Queria usá-la de forma a ressaltar sua dimensão dramática, mas não isenta de humor. E escreveu Instituto de Beleza Vênus. É um argumento original da própria Tonie, que também assina o roteiro. O início dá o tom - o instituto de beleza é filmado de fora. Parece um aquário. Todo de vidro, com cores que oscilam entre o verde e o azul. "É uma espécie de paraíso, um lugar no qual reina o artifício", diz o repórter. Tonie concorda - é isso. E acrescenta: "É também um palco preparado para o teatro da vida." Ela queria falar sobre mulheres. Sabe que elas são as personagens fortes do filme, as mais bem escritas. "Os homens são arquétipos, mas acho que funcionam para o público feminino - toda mulher conhece homens como Antoine e Jacques." Antoine, interpretado por Samuel Le Bihan, é uma espécie de príncipe encantado. Apaixona-se com tal intensidade por Angle, depois de vê-la e ouvi-la num restaurante, que passa a persegui-la. É um personagem que tem qualquer coisa de François Truffaut. Vive o amor como embate entre o gesto impulsivo e a palavra consciente. É um romântico que não teme as palavras para expressar seu amor. "Não pensei em Antoine como um personagem especificamente truffautiano, mas quando discutia o clima e o visual do meu filme recorria sempre a um filme de Truffaut que, aparentemente, não tem nada a ver com o meu - Beijos Proibidos", diz a diretora. Delicadeza - Numa breve entrevista por telefone, Le Bihan conta do seu prazer em trabalhar com diretoras. "Elas são mais sensíveis e sedutoras." Além de Tonie, foi dirigido por Jeanne Labrune. Seu filme mais recente, O Pacto do Lobo, é dirigido por um cineasta de ação, Christopher Gans, que fez Crying Freeman - As Lágrimas do Guerreiro. Baseia-se no célebre episódio da fera de Gévaudan, entidade maléfica à qual foi atribuída uma centena de assassinatos na França do século 18. "A diferença de trabalhar com um diretor e uma diretora é brutal", explica Le Bihan. "Prefiro mil vezes a delicadeza feminina." Jacques, interpretado por Jacques Bonnaffe, é o ex-marido que carrega no rosto as cicatrizes que Angle possui no coração. "É isso", diz Tonie. "Queria falar sobre uma mulher que cuida dos outros para não ter de cuidar dela mesma e por isso trabalha num instituto de beleza, esse lugar onde ocorre a busca da eterna juventude, por meio do artifício." Angle tem uma força que Tonie não hesita em definir como "selvagem, um pouco bruta". Ao mesmo tempo que é sedutora, tenta disfarçar sua fragilidade ("De novo o tema do artifício" diz Tonie). Quando começou a desenvolver o projeto, ela nunca disse - "Vou fazer um filme para exaltar a mulher madura." Mas foi assim que Instituto de Beleza Vênus saiu, fazendo imenso sucesso entre o público feminino francês. Ela conta que pesquisou muito para desenvolver os personagens e as situações. "Freqüentei muitos institutos de beleza, ouvi muitas conversas de mulheres escondida atrás das cortinas." Tudo é fictício e, ao mesmo tempo, é real, até a cliente que passeia nua no instituto e provoca rebuliço entre os homens que a vêem lá fora. "Na verdade, ela não agia assim por exibicionismo, mas para chatear a dona", diz. A primeira cliente é interpretada por Claire Denis, diretora francesa de prestígio (seu filme Beau Travail foi posto na lua por Cahiers du Cinéma), além de ter sido jurada no Festival de Cannes deste ano. "Admiro muito Claire e me dou bem com ela, mas não a escolhi por amizade e sim por sua voz." Queria que a primeira cliente tivesse a voz cansada - imita ao telefone o estilo de voz - para sugerir que o instituto é o reino da renovação. "Claire fala assim, foi perfeita." O filme foi completamente escrito. "As únicas modificações foram em uma ou outra palavra que os atores não conseguiam dizer." O visual também foi transadíssimo. Não só o visual, o som, também. "Uma das coisas mais difíceis foi criar o breve comentário musical, cada vez que é transposta a porta do instituto; é o acesso ao paraíso", resume. Instituto de Beleza Vênus (Venus Beauté) - Drama. Direção de Toni Marshall. Fr/98. Duração: 105 minutos. Cine Lumire 2, às 15h30, 17h30, 19h30 e 21h30. Cinearte 1, às 14h10, 16 horas, 18 horas, 20 horas e 22 horas. Jardim Sul-UCI 5, às 20h10 e 22h20 (amanhã e sábado também 0h30). Pátio Higienópolis-Cinemark 2, às 19h15 e 21h40 (amanhã e sábado também meia-noite). 14 anos.

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