LOS ANGELES - O Oscar era a última esperança de Selma.
O drama sobre direitos civis da diretora Ava DuVernay pareceu, nas primeiras exibições nos EUA em novembro, que iria varrer os prêmios e fazer história no processo.
Mas os sonhos de Selma (com estreia prevista no Brasil para o dia 25 de janeiro) foram muito prejudicados quando a Academia de Hollywood anunciou as apenas duas indicações do filme - melhor filme e melhor canção original.
2015 também é ano em que, pela segunda vez em quase 20 anos, todos os atores e atrizes indicados ao Oscar são brancos - isso num momento em que a indústria de Hollywood é criticada por não promover diversidade. No final de 2014, emails trocados entre executivos da Sony sugeriam “insensibilidade” à questão, de acordo com o The Hollywood Reporter.
As indicações “realmente falam com a desconexão entre a indústria e os Estados Unidos”, disse o professor da UCLA Darnell Hunt ao Los Angeles Times. “A Academia é esmagadoramente branca, masculina e a maioria dos membros tem mais de 60 anos. Há certo gosto e cultura lá, e um tipo particular de contar histórias que não é muito inclusivo de diferentes pontos de vista.”
Cinco vencedores negros do Oscar
Selma. Profissionais da indústria do cinema agora especulam porque o filme teve tão poucas indicações.
Uma das questões levantadas é que o ‘timing’ de lançamento do filme foi incorreto - no passado, um filme lançado no final do ano era visto com bons olhos pelos prêmios. Mas Selma pode ter vindo simplesmente muito tarde. Apesar de ter todos os ‘requisitos’ para os prêmios, o filme não teve, ainda, o impacto esperado.
O fato de todos os atores e atrizes indicados serem brancos apenas exagerou o pouco reconhecimento do filme, especialmente no ano seguinte que 12 Anos de Escravidão e a atriz Lupita Nyong’o levaram as estatuetas.
Em novembro, DuVernay desconsiderou a sugestão de que os vencedores de 2014 poderiam diminuir as chances de Selma. “Pensar isso é criminoso. Os dois filmes são completamente diferentes”, disse.
O retrato feito por DuVernay de Martin Luther King Jr rapidamente se tornou um favorito dos críticos pela sua caracterização da marcha entre as cidades de Selma e Montgomery, no Alabama, pela votação, em 1965, do Voting Rights Act (lei americana que proíbe qualquer tipo de discriminação racial em votações eleitorais). Era esperado que DuVernay fosse a primeira mulher negra a ser indicada ao prêmio de melhor diretor.
E aí as indicações e prêmios deixaram Selma de lado. Os sindicatos (produtores, diretores e atores) negligenciaram o filme, muito porque o ele furou o prazo de exibição em DVD para os membros votantes.
No Globo de Ouro, a diretora e o ator principal, David Oyelowo, foram indicados, mas não levaram o prêmio.
Pouco antes de Selma estrear nos EUA, houve controvérsia sobre a caracterização do ex-presidente Lyndon B. Johnson (Tom Wilkinson) como um obstáculo para a aprovação da lei - e a imprensa americana acabou dando mais atenção a esse aspecto.
De qualquer forma, os prêmios não são a única medida do sucesso e impacto de um filme. Selma inspirou empresários dos EUA a criar fundos para permitir que estudantes vejam o filme de graça e o presidente Barack Obama receberá parte da equipe nesta sexta-feira, 16, para uma exibição na Casa Branca. / LINDSEY BAHR (AP)