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In Edit traz o melhor do documentário musical

Entre sessões e shows especiais, festival foca na inovação e na experimentação

Por Flavia Guerra
Atualização:

O In Edit Brasil - Festival Internacional do Documentário Musical chega à sua sexta edição com uma seleção de fôlego. Do vencedor do Oscar de melhor documentário este ano, o A um Passo do Estrelato, a Olho Nu, que desvenda a persona de Ney Matogrosso, passando pelo homenageado da vez, o diretor holandês Frank Scheffer, o evento prova que os documentários sobre o universo musical nunca estiveram tão em alta.

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Desta vez, são 60 filmes de diversos países, com 37 produções internacionais e 23 nacionais, além de shows e debates. O Brasil tem tanto assunto para tanto filme sobre música? "Claro! Depois dos Estados Unidos, somos o país que mais consome música autóctone do mundo. Música boa para filmar não falta. Prova disso são os tantos documentários musicais que estreiam todo ano nos cinemas", comenta Marcelo ‘Aliche’ Andrade, diretor do In Edit Brasil.

Aliche, como é chamado, observa que a quantidade dos inscritos brasileiros teve uma leve queda. "Em geral, recebemos cerca de 100 filmes, entre curtas e longas. Este ano, foram quase 80. Mas isso, por incrível que pareça, é sinal de que o setor vai bem. Explico: todos sabemos que fazer filme sobre música é profissão de fé. Filmamos porque amamos o assunto. Com a nova lei da TV paga, um bom número de produtores e diretores, que fazem seus documentários na raça, deu uma pequena pausa para tocar projetos na TV. E volta em breve com mais força ao gênero no cinema. Tem muita coisa boa vindo por aí", informou o diretor. Em compensação, a qualidade melhorou. "Estamos mais maduros, sabendo contar boas histórias de forma cinematográfica. A competição nacional é prova disso. Esta é uma ótima safra", completou.

Quando o assunto é filmar por paixão à música, o homenageado desta edição fala com propriedade. Frank Scheffer é do tipo que se dedica anos a um projeto e já registrou desde o efeito que Gustave Mahler tem sobre maestros que regem suas composições até a cinebiografia do guitarrista Frank Zappa. "É impossível filmar a música, mas, quem é apaixonado e decide filmá-la, tenta captar sua alma. Cinema e música são duas experiências do tempo. É por isso que fico tão feliz em ser homenageado em um festival que tem a música e o cinema como prioridade", declarou Scheffer em conversa com o Estado por telefone, direto de Amsterdã, onde vive.

Ainda que, como observa o holandês Frank Scheffer, filmar a música seja impossível, centenas de diretores se aventuram todo ano em tentar registrar tanto a história dos grandes músicos do mundo quanto anônimos que dedicam a vida à sua arte. Scheffer, que chega segunda a São Paulo para receber merecida homenagem no 6º In Edit Brasil - Festival Internacional do Documentário Musical (de hoje a 11 de maio), passou os últimos 30 anos percorrendo o mundo em busca de boa música para filmar. "Meus filmes são sobre a essência da música. Não estou interessado na biografia do compositor ou do artista, mas em como é sua música e como ela funciona. O assunto principal dos meus documentários é, portanto, a própria música", comentou ao Estado.

Scheffer participa na terça-feira de debate, no Centro Cultural São Paulo, após a exibição de um de seus grandes filmes: Conducting Mahler (Conduzindo Mahler), sobre a experiência que maestros como Claudio Abbado, Riccardo Muti e Simon Rattle tiveram ao reger a obra do compositor austríaco. "Cada um que ouve Mahler interpreta sua música de uma forma. Quis filmar os maestros, que em geral vemos só de costas, em seu processo de trabalho", conta Scheffer, que também conversa com o público após a exibição de Frank Zappa: A Pioneer of the Future of Music, na quarta, às 19 h, no Cinesesc.

Além destes, retratos que Scheffer fez de nomes como Edgar Varèse, Eliot Carter, Brian Eno e com o compositor John Cage, podem ser conferidos em várias sessões do festival.

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Já na competição internacional, imperdível é Jimi Hendrix: Hear My Train a Comin, que Bob Smeaton dirigiu sobre o genial guitarrista. Considerado o documentário oficial sobre a vida de Hendrix, o filme vai além do mero relato jornalístico e faz uma viagem pelo universo de Hendrix. "Esta é, aliás, a característica que nos faz decidir por um filme. Não queremos apenas fazer uma seleção que traga quase reportagens, mas que inovem na linguagem, que sejam cinematográficos", comenta Marcelo Andrade, o Aliche, diretor do evento. "Há mil maneiras de se filmar o universo musical. O filme que muitas vezes se detém na mera organização de fatos jornalísticos muitas vezes é chato. Às vezes a cronologia não é relevante para a história. Às vezes, eleger o que toca o espectador é mais importante. E é isso que faz cinema", completa ele, que trouxe o In Edit para o Brasil em 2008. "O evento espanhol é muito maior que o brasileiro, mas nossa edição é concentrada e traz seleção local muito boa", conta Aliche.

Exemplo disso é a competição oficial, que neste ano traz seis títulos sobre grandes nomes e ganha um júri oficial. "Até ano passado, os melhores eram escolhidos só pelo público. Este ano teremos uma banca de especialistas. Estamos avançando", informa o diretor. Entre eles, A Farra do Circo, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, que narra as façanhas do Circo Voador desde a colocação da lona no calçadão do Arpoador até a viagem para a Copa do México em 1986. Imperdível é Olho Nu, de Joel Pizzini, que, em um novo corte, traz um retrato de Ney Matogrosso que mescla cenas recentes a material de arquivo pessoal do cantor, que possui mais de 300 horas de imagens históricas.

Já na mostra Brasil.doc, menos experimental e mais informativa, há Geração Baré-Cola, de Patrick Grosner. O filme faz um panorama da cena do rock dos anos 90 em Brasília, herdeira da geração que mudou o rock brasileiro nos anos 80. São nomes como Raimundos, Little Quail, DFC, Os Cabelo Duro, entre outros, que formam a geração Baré-Cola.

Como já é tradição do In Edit, além da programação nas telas, as atrações paralelas ocupam diversos palcos da cidade. Entre os destaques, está a participação de Claudia Lennear da sessão-debate de A um Passo do Estrelato, o vencedor do Oscar de melhor Documentário 2014, no dia 11, no Cinesesc, às 19 h. Claudia, que fez backing vocals para Tina Turner e Rolling Stones, hoje é também é professora primária e vai tirar alguns dias para vir ao País.

Antes, no MIS, às 19h, a maratona começa hoje com show de abertura dos músicos Lou Barlow (Sebadoh e Dinossaur Jr) e de DJ Pita Uchoa, às 20h. Em paralelo, no Cinesesc, às 19h, ocorre a primeira exibição de A um Passo do Estrelato e de Olho Nu, às 21h, com bate-papo com Joel Pizzini.

IN-EDIT BRASILDe 1º a 11/5. Cinesesc, MIS, Cinemateca, Matilha Cultural, Cine Olido e CCSP. Grátis / R$ 10 (Cinesesc).

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