Imagens que possuem a cara de São Paulo

Os grafiteiros OSGEMEOS, que estreiam com mostra, fizeram o cartaz do festival

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Por Francisco Quinteiro Pires
Atualização:

A dupla de grafiteiros OSGEMEOS tem a cara de São Paulo. Seus desenhos de traços finos mostram personagens com nariz de batata e de pele amarelada, como se esse tom fosse resultado do "bronzeamento" das luzes artificiais de escritório. Eles são uma metáfora dos habitantes de uma metrópole cinza, de construções que lançam luzes sobre as calçadas, onde o céu não é mais azul, como os irmãos disseram em um de seus trabalhos, e onde muitas vezes sonhos se tornam pesadelos. O mais comum é a promessa de felicidade ceder lugar à melancolia.

 

 

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Convidados para fazer o cartaz da 33ª Mostra Internacional de Cinema, eles vêm do Cambuci, bairro na zona sul paulistana. Frequentadores do Largo São Paulo, no centro, nos anos 1980, quando aparece uma forte cena rap, os univitelinos Otávio e Gustavo Pandolfo, de 35 anos, são ligados ao hip hop, entre cujos quatro elementos (MC, DJ e break dancing) está o grafite. As suas formas e cores saturadas, misturando lembranças familiares a elementos da cultura brasileira, fundaram um universo onírico que ganhou o mundo, apesar da discussão sobre a permissão de o grafite entrar nos espaços reservados à arte. E apesar da discussão de que o grafite, tal como a pichação, não passaria de um vandalismo urbano.

 

Valendo milhares de dólares, seus trabalhos, incluindo esculturas, foram para galerias e museus fundamentais: Deitch Gallery, de Nova York, Museu de Arte Moderna de Tóquio, Louvre. Eles grafitaram a fachada da Tate Modern, em Londres. Pintaram as paredes de um castelo medieval na Escócia. Assinaram um projeto especial de tênis para a Nike. E fizeram o encarte do CD Toda Vez Que Eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar, de Siba.

 

Agora chegam a São Paulo, cidade que criou o jeito de OSGEMEOS criar, com a individual Vertigem. Depois de passar por Curitiba (Museu Oscar Niemeyer) e pelo Rio de Janeiro (Centro Cultura Banco do Brasil), a mostra estreia neste sábado, no Museu de Arte Brasileira da Faap (tel.: 3662-7198). Antes, eles tinham exposto na cidade O Peixe Que Comia Estrelas Cadentes na Galeria Fortes Vilaça.

 

OSGEMEOS se dizem marceneiros. Costumam afirmar que seus desenhos são feitos de improviso, sem nenhuma tensão entre os dois. Para eles, tudo combina com tudo.

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