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'Ilusões Perdidas' ganha César de melhor filme em cerimônia com lembranças à Ucrânia

Após dois anos com polêmicas marcantes, discursos no evento se limitaram a prestar apoio ao país, que foi invadida pela Rússia nesta semana; Cate Blanchett recebeu prêmio honorário

Por François Becker e Jordi Zamora
Atualização:

Ilusões Perdidas, adaptação de uma novela de Balzac, ganhou o César de melhor filme no prêmio de cinema francês na sexta-feira, 25, que transcorreu sem escândalos ou grandes protestos políticos, exceto pela denúncia da invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Não vamos mudar o mundo, não somos os mais indicados para dar lições", reconheceu o mestre de cerimônias, o ator e escritos Antoine de Caunes, ao início da gala na sala Olympia, em Paris. 

Diante da ausência do cineasta Xavier Giannoli, os produtores franceses Sidonie Dumas e Olivier Delbosc receberam o prêmio César de melhor filme por 'Ilusões Perdidas' na cerimônia de 25 de fevereiro Foto: Bertrand Guay/AFP

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"Esta noite pensamos nos ucranianos. Temos a sorte que eles não têm", pediu. 

Outros premiados também tiveram palavras para o povo ucraniano em plena invasão russa, porém de forma contida, em comparação com o nu completo que uma atriz protagonizou no ano passado, ou das críticas que recebeu há dois anos pelo prêmio concedido a Roman Polanski, um diretor criticado pelas feministas. 

Se tratava antes de tudo de recuperar o público, diante da queda de audiência registrada no ano passado, quando somente 1,6 milhão de franceses assistiram à cerimônia. 

O setor cinematográfico francês, apesar de seguir funcionando e estreando filmes, sofreu como o resto do mundo o fechamento de salas durante a pandemia, e uma queda substancial na bilheteria. 

Ilusões Perdidas, do diretor Xavier Giannoli, 49, superou estes obstáculos. Mais de 870 mil pessoas assistiram ao longa, um retrato ácido dos inícios da imprensa em Paris, em pleno século 19. 

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Os cineastas Marie Amiguet e Vincent Munier posam com o prêmio César de Melhor Documentário por 'La Panthere Des Neiges' durante a 47ª cerimônia da premiação em Paris Foto: Christophe Petit Tesson/EFE/EPA

O filme cumpriu com boa parte dos prognósticos e levou sete prêmios César, apesar do não comparecimento de Giannoli à cerimônia.

Como melhor diretor, a academia francesa premiou a Leo Carax, pela ópera-rock Annette. O César de melhor atriz foi para Valérie Lemercier, por uma pseudobiografia da cantora canadense Céline Dion. O de melhor ator ficou para Benoit Magimel, pelo seu papel de doente terminal em De Son Vivant.

Uma atriz não profissional, Aissatou Diallo Sagna, ganhou o prêmio de melhor coadjuvante pelo papel de enfermeira em La Fracture

O público francês pareceu impávido aos pedidos de ajuda e aos discursos políticos apaixonados de cerimônias anteriores. Diallo Sagna, que afirmou na terça-feira, 22, que retornará ao seu trabalho de enfermeira, confirmou o tom de sensatez da cerimônia. "Este César é para nós, os enfermeiros", disse. 

César para Cate Blanchett

A atriz australiana Cate Blanchett recebeu um César de honra por sua carreira pelas mãos da também atriz e sua amiga, Isabelle Huppert.

A atriz australiana Cate Blanchett posa com seu prêmio César honorário na sala de imprensa do Olympia Music Hall em Paris Foto: Christophe Petit Tesson/EFE/EPA

Houve também um momento de emoção para lembrar de estrelas desaparecidas, como Jean-Paul Belmondo e o jovem ator Gaspard Ulliel. 

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Buscando insistir no tom de discrição, a academia não premiou um filme que teve um grande êxito de público no ano passado, BAC Nord, de Cédric Jimenez, sobre a violência descontrolada nos bairros de Marselha. 

Tampouco houve prêmio a Titane, o polêmico longa que conseguiu a Palma de Ouro em Cannes.

A edição de 2020 dos prêmios César causou escândalo por dar o prêmio de melhor diretor a Roman Polanski, que em 1977 foi acusado de abusar de uma menor. Uma atriz, Adèle Haenel, abandonou a sala em protesto.

E no ano passado, em plena crise da pandemia, outra atriz, Corinne Masiero, tirou a roupa e ficou nua para expressar seu protesto pela suposta falta de apoio governamental para o setor cultural. 

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