07 de maio de 2009 | 13h36
Em "A Ilha da Morte", que estreia em São Paulo e Rio de Janeiro na sexta-feira, há um filme dentro do filme. É um longa "dirigido" pelo personagem central, um aspirante a cineasta na Cuba dos anos 1950.
O resultado, em preto-e-branco é um tanto ingênuo, abre os olhos dos demais personagens para a sua situação de opressão. Esse "filme" é o que há de melhor no longa do cearense Wolney Oliveira.
Oliveira, também coordenador do Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, centra seu longa em um personagem ingênuo numa época conturbada de transformações.
No entanto, o resultado final, "A Ilha da Morte", acaba contaminado por essa ingenuidade, romantizando muito o personagem e sua trajetória. Talvez o século 21 seja cínico demais, mas é difícil levar a sério a história desse jovem que só queria fazer cinema romântico numa época em que seu país passava por profundas transformações políticas.
O protagonista é Rodolfo (Caleb Casas), sonhador que manda cartas para Hollywood na esperança de conseguir um emprego com grandes produtores de cinema, mas só recebe respostas-padrão. Mais tarde, quando sua família é obrigada a abandonar Havana por causa das relações políticas de seu pai, ele se muda para uma pequena cidade, onde o protagonista encontra um grupinho local que faz filmes amadores - e ele desiste de abandonar Cuba e decide viver seu sonho ali mesmo.
Rodolfo começa a dirigir, mas não tem a menor noção de como se faz isso - tanto que sua leitura de cabeceira é um manual de direção em cinema. Aos poucos, ele descobre outra paixão, Laura (Laura Ramos), moça bonita e namorada do mauricinho local que banca as pequenas produções cinematográficas do grupo. Quando ela decide abandoná-lo, ele suspende o patrocínio, além de perder o papel de galã dos filmes.
Assim, o longa, cujo roteiro também é assinado pelo diretor, acompanha a trajetória desse rapaz em busca de seu sonho, que acaba se cruzando com a agitação política de seu país às vésperas de uma revolução.
No fundo, "A Ilha da Morte" é uma homenagem aos cineastas da escola cubana de Santo Antonio de Los Baños, onde Wolney se formou. Há, no entanto, um discurso no filme: o cinema assume contornos políticos, por mais que isso seja involuntário.
Em 2002, Todd Haynes dirigiu um filme inspirado nos melodramas de Douglas Sirks, dos anos 1950. No entanto, o diretor norte-americano fez uma releitura daquele período, incluindo novos elementos ligando o passado ao presente. Sua narrativa situava-se naquela década, mas nem por isso se deixou contaminar por aquele espírito. É exatamente isso que faltou ao filme de Oliveira: dizer algo novo sobre uma história que todos conhecem há mais de cinquenta anos.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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