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"Homens de Honra" reprisa disputa entre raças

Por Agencia Estado
Atualização:

Quem viu recentemente Duelo de Titãs e gostou, pois há gosto para tudo, vai apreciar ainda mais Homens de Honra. É mais divertido, embora conte outra vez mais uma capítulo da eterna luta do homem branco contra o homem preto com a vitória moral e técnica deste sobre aquele. É a revisão cada vez mais insistente que a consciência pesada dos produtores de Hollywood os obriga a fazer. Durante décadas eles espremeram maravilhosos atores de ébano nos bancos de trás dos ônibus, ou os fizeram entrar pela porta dos fundos dos filmes, até que um dia não deu mais. Os netos morais e étnicos de Sidney Poitier, o primeiro grande negro a ganhar um Oscar de branco, se multiplicaram e tomaram as rédeas da carruagem. Denzel Washington, em Duelo de Titãs, barbarizava os caras-pálidas comandando, com vigor e prepotência, um time de futebol universitário. Aqui, Cuba Gooding, Jr. mergulha no oceano e de lá emerge com a pureza dos heróis. Ele faz o papel de um personagem da vida real, Carl Brashear, o primeiro mergulhador negro admitido na marinha americana. Come a lavagem que o branco cozinhou para ele. Mas não voltará nunca mais para casa, uma fazenda miserável onde o pai arava a terra com a ajuda de jumentos. Vai tão fundo no seu mergulho existencial-aquático que recebe a fantástica missão de fuçar o oceano para procurar nada que menos que uma bomba atômica perdida lá. Sobrevive a isto, à perda de uma perna e aos tormentos inflingidos pelo seu chefe-algoz-amigo-alcoólatra-filósofo Billy Sunday, um quinteto de emoções contraditórias que só um canastrão do porte de Robert de Niro poderia concentrar num homem só. O filme de George Tillman, Jr.é mesmo um duelo de atores titãs, cada um querendo provar que é melhor que o outro. Brashear, o verdadeiro, conseguiu tudo o que queria, chegar à patente mais alta na área de mergulhos da marinha americana. Cuba Gooding, Jr, seu intérprete, ainda aguarda um papel que faça jus ao seu talento. De Niro, sempre falso, sai ganhando outra vez. São hilariantes seu cachimbo, óculos raiban e a pose do célebre general McArthur, que ele ridiculariza com brio. E é para guardar seu conselho aos que mergulham não no mar mas em garrafas: "Não beba. Se beber, não se embriague. Embriagado, não caia. Se cair, caia de um jeito que não deixe ninguém perceber as patentes que você carrega no peito". Grande de Niro, mestre em salvar até as piores aparências. Homens de Honra (Men of Honor) - Drama..Direção de George Tillman Jr. EUA/2000. Dur. 128 minutos.

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