Homenagens e polêmicas em Gramado

Homenagem a Roberto Farias e polêmica no fórum sobre novas propostas para o cinema mopvimentaram o terceiro dia do festival, que teve o belo curta Dona Cristina Perdeu a Memória e o longa um tanto esquemático Uma Onda no Ar

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Por Agencia Estado
Atualização:

Homenagens e polêmicas marcaram o terceiro dia do 30.º Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino. Na quarta-feira à noite, Roberto Farias subiu ao palco do Palácio dos Festivais para receber o Troféu Eduardo Abelin, que se inspira no pioneiro do cinema gaúcho para homenagear um diretor que tenha contribuído decisivamente para o desenvolvimento do cinema brasileiro. À tarde, num fórum para discutir as novas propostas para o cinema nacional em tempos de Ancine, brigaram o veterano produtor Luiz Carlos Barreto e um dos integrantes do corpo de diretores da Agência Nacional de Cinema, Alberto Sevá. E ainda houve os filmes: o belo curta de Ana Luiza Azevedo, Dona Cristina Perdeu a Memória, e o longa um tanto esquemático e ingênuo, mas generoso na proposta e sensacional pelo trabalho dos atores, Uma Onda no Ar, de Helvécio Ratton, baseado na experiência da Rádio Pirata, de Belo Horizonte. "Uma Onda no Ar" tem tudo a ver com Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Ambos são complementares nas suas virtudes e desacertos. Farias realizou três dos mais importantes filmes brasileiros dos anos 1960: Cidade Ameaçada, Assalto ao Trem Pagador e Selva Trágica. Ele próprio considera o último - frustrante porque, ao contrário dos outros dois, não fez sucesso de público, na época - a sua obra-prima. O Troféu Eduardo Abelin não premiou somente o diretor. Destacou o homem que, na presidência da Embrafilme, alavancou o cinema brasileiro para os mais altos índices de produção e freqüência de sua história. Farias sempre lutou pelo mercado: fazendo filmes comerciais, por opção estética, contando, de maneira vigorosa, histórias que põem na tela a cara e as contradições do Brasil, e também lutando pela regulamentação das regras do jogo da produção e da exibição. "Quando comecei, era ingênuo", conta. "Achava que era suficiente fazer o filme e que ele próprio acharia seus caminhos para o público. A experiência me ensinou que é preciso brigar pelo mercado, que numa cultura de dependência, o fato de o mercado estar ocupado pelo produto estrangeiro é fatal para a nossa expressão artística e cultural." Barretão e Sevá também brigaram por isso. Sevá usou seu espaço no fórum para relatar as dificuldades da Ancine: a entidade está com uma renda miserável que não dá para pagar sua instalação e existem todos esses filmes na prateleira, à espera de distribuição. Barreto chiou. Achou o discurso velho e disse que Ancine não foi criada para ser uma nova Embrafilme. "Seu objetivo é fomentar a produção por meio de medidas reguladoras do investimento e do mercado, não para distribuir verbas." A polêmica repercute em Gramado. Um festival de cinema não se faz só de filmes. Faz-se também de política. O repórter viajou a convite da organização do festival

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