Hollywood perde 10 bilhões de dólares por ano devido à falta de diversidade, aponta estudo

Estudo da consultora McKinsey, que reuniu pesquisas anteriores e novas entrevistas, indica que medidas concretas, como bônus corporativos ligados a uma melhor representação, podem mudar a situação

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Por Nicole Sperling
Atualização:

Ao ignorar as desigualdades raciais sistêmicas que dominam as áreas de TV e cinema, Hollywood deixa de ganhar 10 bilhões de dólares ao ano. Esta é uma das principais conclusões de um novo estudo realizado pela consultora McKinsey & Co., que, pela primeira vez, voltou sua atenção para a escassez de representação negra. E, ao contrário de muitos outros estudos que também fizeram um excelente trabalho destacando os problemas, mas não propondo soluções concretas, a McKinsey propõe uma série de medidas que contribuirão para uma nova estrutura do setor.

Cena do filme 'Pantera Negra', que levou a estética do afrofuturismo para o grande público Foto: Marvel Studios

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Os consultores examinaram diversos estudos existentes sobre milhares de filmes e programas de TV, incluindo o Hollywood Diversity Report, elaborado anualmente pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles; o relatório Being Seen on Screen: Diverse Representation and Inclusion on TV, 2020, da consultora Nielsen, e um trabalho realizado anualmente pela Universidade do Sul da Califórnia, a Annenberg Inclusion Initiative.

Os pesquisadores da McKinsey colaboraram com o BlackLight Collective, um grupo composto por mais de 90 líderes negros que atuam nas áreas de cinema e TV.

Foram realizadas entrevistas anônimas com mais de 50 participantes do setor, negros e não negros, incluindo executivos, produtores roteiristas, diretores e agentes. O objetivo foi refletir as experiências dessas pessoas e identificar os principais problemas quando da criação de conteúdo. Exemplos dos obstáculos enfrentados abrangem questões como talentos negros sendo “forçados a vender histórias sobre traumas pessoais para serem aceitas” e os pressupostos estereotipados sobre público alvo “que são mais valorizados do que as experiências vividas dos criadores”.

O estudo observa que a estrutura de Hollywood - aprendizagem não paga ou sub-paga, redes de contatos muito fechadas e um contexto de trabalho temporário, informal e pequeno, com frequência em locais distantes - contribuem de algum modo para as falhas do ecossistema. Mas o estudo reconhece também que há tendências persistentes observadas em grandes companhias: criadores negros têm sido particularmente responsáveis pela oferta de oportunidades para outros talentos negros fora da tela, atores negros que surgem têm menos chances na sua carreira e menos margem de erro e há uma representação minoritária pequena no âmbito da alta administração e das diretorias executivas. O setor cinematográfico, concluem os autores, é até menos diverso do que setores tipicamente homogêneos como os de energia e finanças.

“Do mesmo modo que uma ação coletiva é necessária para aprimorar a igualdade racial no mundo corporativo americano, mudanças duradouras e reais necessárias nas áreas de cinema exigem uma ação coordenada e um compromisso conjunto dos participantes em todo o ecossistema do setor”, afirmam os autores do estudo, Jonathan Dunn, Sheldon Lyn, Nony Onyeador e Ammanuel Zegeye.

Segundo o relatório, o orçamento médio para a produção de filmes liderados por negros é um quarto menor do que o destinado a filmes com atores não negros. Um executivo de criação que conversou com os pesquisadores disse que quando os responsáveis “buscam conteúdo negro eles miram em Wakanda ou na pobreza, sem nada intermediário”. Um ator negro, que também se manifestou, acrescentou, “tenho de aceitar trabalhos estereotipados porque é o que tem por aí; mas quando assumo esses papeis, dizem que é tudo do que sou capaz”.

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Como resolver a falta de diversidade no cinema?

Para solucionar esses problemas, a McKinsey propõe medidas concretas, como insistir para os estúdios, redes, serviços de streaming, agências e produtorasse comprometerem publicamente com uma meta específica de representação negra e não branca em todos os níveis e papéis que reflita a população dos Estados Unidos: 13,4% negros, ou um total de 40% no caso das pessoas de cor. O estudo também incentiva as empresas a ampliarem seus esforços de recrutamento para além de Nova York e Los Angeles, indo para o Sul, onde se concentram 60% da mão de obra afro-americana, e em universidades e faculdades historicamente negras.

Outra sugestão é aumentar a transparência e a prestação de contas com relatórios regulares sobre a composição das organizações em termos de raça, gênero e etnia. Para reforçar isto, as bonificações para executivos ficariam ligadas a metas de diversidade, para as empresas “se certificarem de que os líderes assumiram a responsabilidade pelo avanço na questão da igualdade racial”.

Outra ideia é o apoio financeiro a histórias envolvendo negros, com uma alocação de 13,4% dos orçamentos anuais para filmes estrelados por atores negros, e com produtores, roteiristas e diretores negros por trás das câmeras.

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Finalmente, os autores do estudo exortam Hollywood a criar uma organização independente para promover a diversidade - um grupo separado com apoiadores ativos e parcerias consistentes com líderes dos setores de cinema e TV.

“É irracional esperar que os talentos negros dentro e fora da tela continuem a consumir um número incontável de horas tentando reformar sozinhos este vasto e complexo setor, um tempo que, do contrário, estariam usando para criar a próxima série que se tornará uma sensação ou franquias de filmes de grande sucesso de bilheteria”, afirmam os autores do estudo.

Tradução de Terezinha Martino

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