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Histórias Proibidas traz Solondz ao Rio

O diretor de Felicidade veio participar do Festival do Rio BR 2001. Seu novo filme é a prova de que de perto ninguém é normal. Mais uma vez ele enfoca a família misturando ficção e não-ficção

Por Agencia Estado
Atualização:

Diane Baratier cita Eric Rohmer. "Hoje em dia as pessoas têm mais medo do terror que esperança na Revolução." É o tema de A Inglesa e o Duque, o filme do grande autor francês que integra a programação do Festival do Rio BR 2001. Diane é a diretora de fotografia. Nesta quinta-feira ela dá uma palestra no Copacabana Palace sobre aspectos práticos da iluminação de filmes, quando se usa o digital. Diane contesta um dos dogmas da tecnologia digital, o de que liberta o cinema do jugo da iluminação. Ela acha que a iluminação foi um dos itens mais difíceis criados pelo uso do digital no filme de Rohmer. Todd Solondz também está no Rio, participando do festival. Veio mostrar o novo filme, Storytelling. Quer dizer ´contar histórias´, ou mesmo ´contando histórias´, mas o distribuidor brasileiro rebatizou o filme como Histórias Proibidas. "Talvez seja mais atraente para o público, mas sugere um filme pornográfico", comenta o diretor. Solondz foi o homem que fez Felicidade. Confessa-se envaidecido quando o repórter diz que Beleza Americana é a versão soft, integrada ao cinemão, de Felicidade e tanto isso é verdade que a Academia de Hollywood ignorou seu filme e cumulou de Oscars o trabalho de Sam Mendes. Histórias Proibidas divide-se em duas partes: Ficção e Não Ficção. "Não poderia ser diferente, porque na primeira a trama gira em torno de um curso de ficção literária e na segunda o personagem é um diretor de documentários, portanto, de obras não ficcionais." A partir daí, tudo se mistura. "Há um subtexto mostrando que as coisas não são estanques." Solondz continua politicamente incorreto. Os personagens da primeira história são um rapaz com paralisia cerebral que vai para a frente do espelho e diz que é um freak. O espectador, mesmo penalizado, é induzido a concordar com sua monstruosidade. Ele freqüenta um curso de literatura cujo professor, negro, é vencedor do Prêmio Pulitzer. O professor faz sexo selvagem com a namorada do rapaz. Diz coisas obscenas durante o ato. A segunda história é sobre uma família. Quem conhece os filmes de Solondz sabe. "É natural que me interesse pela família: ela é a fonte básica de todo drama", ele diz. A família suburbana de Histórias Proibidas é a prova de que de perto ninguém é normal. Há uma empregada latina: chega a ser inacreditável o desrespeito da família, não do diretor, em relação a ela. O filme amplia o discurso social das obras precedentes do diretor. Incorpora uma discussão instigante sobre o ato de contar histórias. Solondz ficou mais maduro em relação ao próprio trabalho? Ele foge pela tangente: "Conto as histórias que me interessam e nem tenho muitas justificativas racionais. Cabe a você, que escreve, refletir sobre elas." Diane fala português. Morou na Bahia nos anos 80 com o ex-marido catarinense. É filha do diretor Jacques Baratier, que foi considerado uma das promessas não concretizadas da nouvelle vague, nos anos 60. É seu sexto filme como diretora de fotografia de Rohmer. Admira-o como intelectual e como homem. "É um grande ser humano e uma pessoa muito gentil. Faz a gente se sentir mais inteligente do que é." Os produtores queriam fazer A Inglesa e o Duque, sobre a Revolução Francesa, em película de 35 mm. Rohmer insistiu no digital. Foram dois anos de preparativos, mais três meses de rodagem e seis meses de pós-produção em laboratório. Três anos, no total. Rohmer induziu Diane a usar fundos de cor que não aparecem. "Suas referências foram Griffith, Órfãs da Tempestade, e a pintura. É um filme muito pictural. Difícil mas compensador", ela resume.

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