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"Himalaia" é ficção com rigor antropológico

Filme de Eric Valli, que entra nesta sexta-feira em cartaz, conta a história da luta de uma tribo para atravessar a cordilheira com seu gado

Por Agencia Estado
Atualização:

Talvez, para situar o espectador, possa dizer-se que Himalaia, o filme de Eric Valli que estréia nesta sexta-feira, tenha alguma coisa de Tempo de Embebedar Cavalos, do iraniano Bahman Ghobadi: o mesmo rigor antropológico aplicado a uma obra de ficção nos limites do documentário. Mas a definição não é perfeita, pois Himalaia pega carona em outro filme iraniano: Gabbeh. Quem viu o belo trabalho de Moshen Makhmalbaf por certo se lembra da história que era tecida como um tapete multicolorido, misturando as emoções da vida com os fios da tecelagem artesanal. No fim do filme de Valli você também vai ver que tudo aquilo que passou na tela foi tecido em outra espécie de gabbeh. Preste atenção ao subtítulo: A Infância de um Chefe. Todo o filme trata da oposição entre códigos tribais e uma modernidade que quer arrombar, de forma ainda primitiva, a fortaleza da tradição. A narrativa situa-se em pleno Himalaia. A luta daquela tribo é para atravessar a montanha com seu gado. Nem fica claro o porquê, se é para vender ou em busca de pastagens. Não importa. É o esforço, não o resultado, que está em discussão. A travessia, tradicionalmente, é definida por meio de pedras sagradas, cujas mensagens são lidas pelos notáveis da aldeia. Um jovem insurge-se contra a tradição. O velho chefe o responsabiliza pela morte do filho que deveria sucedê-lo. Cria-se um choque de vontades. E então ocorre o incidente que vai fazer com que esses homens tão diferentes, mas no fundo tão iguais, reconheçam e acertem suas diferenças. Talvez, de novo, para falar desse filme seja necessário enfatizar a participação do produtor Jacques Perrin, mais até que a do diretor Valli. Perrin foi o garoto de Dois Destinos a obra-prima que Valerio Zurlini adaptou de Vasco Pratolini. Produziu depois Z, de Costa-Gavras, no auge do cinema político dos anos 60. Vem de Perrin, com seu jeito de eterno homem-criança, a atração pelo olhar do menino que filtra todos os acontecimentos e desenha na tela o retrato da infância do chefe.

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