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"Heróis fora de Órbita" mescla Joe Dante e John Ford

Por Agencia Estado
Atualização:

É uma bobagem, mas se você é fã da série Jornada nas Estrelas, não precisa nem ser um trekkie de carteirinha, vai se divertir bastante com Heróis fora de Órbita, que estréia amanhã. O filme de Dean Parisot é uma produção da Dreamworks. Não é só divertido como também consegue ser (por que não?) razoavelmente inteligente. O ponto de partida um tanto óbvio, é uma paródia da série cult Star Trek, mas se você é cinéfilo vai reconhecer que o diretor Parisot e os roteiristas David Howard e Robert Gordon na verdade estão propondo uma mistura que parece insólita e até despropositada - o Joe Dante de Viagem ao Mundo dos Sonhos com o John Ford do clássico O Homem Que Matou o Facínora. Se você viu a fantasia de Dante com certeza se lembra da história dos três garotos que constróem uma nave espacial envolta numa bola de energia e partem dentro dela rumo ao sonho de um deles. Encontram ETs que sabem tudo sobre as transmissões de TV da Terra, conhecem todas as séries, cantam jingles e repetem frases de anúncios. É mais ou menos o que ocorre em Heróis fora de Órbita. É a história de um grupo de atores que trabalha numa série cult - Galaxy Quest. Entre eles estão Jason Nesbitt, que interpreta o comandante Peter Quincy Taggart, tão cultuado como o almirante Kirk de Jornada, a Gwen DeMarco de Sigourney Weaver e o Alexander Dane de Alan Rickman. Quando o filme começa, o grupo está participando de uma convenção de fãs. Todos - menos Nesbitt, que chega depois de ter sido estraçalhado nos comentários dos parceiros, que criticam seu ego descomunal, o estrelismo e a falta de espírito de equipe (ao contrário do que ocorre na série). Entra em cena um quarteto de fãs que mais parecem debi&lóides. Na verdade, são alienígenas que assistem ao show e vieram buscar o intrépido comandante para ajudá-los a resolver um problema em seu planeta, convencidos de que aquilo que vêem na TV são preciosos documentos históricos. Essa é a parte Viagem ao Mundo dos Sonhos do enredo, mais semelhante a uma viagem ao pesadelo porque os vilões do espaço têm um líder barra-pesadíssima. Ainda bem que o diretor não trata esse pesadelo a sério. Parisot adota um tom farsesco ou paródico - na interpretação dos atores, no desenvolvimento das cenas, na construção dos cenários e do comentário musical - que, de certa maneira, ´desconstrói´ aquilo que o espectador está vendo. Mas há também o lado O Homem Que Matou o Facínora, que evoca a célebre frase do jornalista na obra-prima de Ford - "Quando a lenda predomina sobre a realidade, publicamos a lenda." Crise e desânimo - Não apenas Jason Nesbitt é colhido num momento de crise de identidade, achando que não vale nada, como seus colegas também estão todos desanimados. Alexander Dane lamenta a todo momento a que ponto chegou, tendo de recitar frases idiotas diante das câmeras de TV (e dos fãs), logo ele que foi aclamado como Ricardo III, ao encenar a peça de Shakespeare no teatro. O grupo termina assumindo a tarefa gloriosa de enfrentar (e vencer) os vilões espaciais, justificando a frase que é a divisa da série. "Nunca desista, nunca se renda." Essa vitória da fantasia, a lenda de Galaxy Quest predominando sobre a realidade, conta com a cumplicidade dos fãs da série, aqueles mesmos a quem Nesbitt decepciona e hostiliza no início. Por meio deles ele conseguirá realizar-se como herói, assumindo para si a segunda chance que é o outro tema por excelência do cinema americano (com o retorno ao lar celebrizado de O Mágico de Oz e ...E o Vento Levou até E.T. - O Extraterrestre). Parisot estreou na direção com a comédia dark, estrelada por Drew Barrymore, Home Fries. Foi um começo, digamos, banal para um cineasta que ganhou o Oscar de curta-metragem por The Appointments of Dennis Jennings e somou à sua carreira o Urso de Ouro de Berlim por outro curta - Tom Goes to the Bar. Não se pode dizer que ele esteja revolucionando o cinema ou correspondendo integralmente à expectativa autorizada por seus curtas, mas Heróis fora de Órbita é Quanto Mais Idiota Melhor revisto (e melhorado). Para fãs da série Jornada nas Estrelas, o prazer ainda é maior, pois se eles no início são gozados no desfecho também alcançam reconhecimento para o seu gosto pessoal. O elenco é parte fundamental da empatia que o filme logra estabelecer. Tim Allen é figura carimbada da TV americana, mas quem brilha é mesmo Alan Rickman, para não falar de Sigourney Weaver. A oficial Ripley da série Alien, que lhe valeu a definição de ´Rambolina´, há muito conseguiu provar que é uma mulher bonita e sensual. Sua personagem é um clichê, com os seios saltando do macacão, que ela cria com evidente prazer (e muito sentido do timing). Mas o destaque é mesmo Alan Rickman. Duas vezes vilão memorável - em Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões, de Kevin Reynolds, com Kevin Costner, e em Duro de Matar, o primeiro da série com Bruce Willis, dirigido por John McTiernan -, ele tentou ultimamente a direção com Momento de Afeto, um drama familiar valorizado pelas interpretações de Emma Thompson e de sua mãe, na ficção como na realidade, Phyllida Law. Como o shakespeariano que a princípio se enfastia e até desespera como herói espacial, ele rouba a cena e não deixa de parodiar o Patrick Stewart de Jornada nas Estrelas. Enfim, nada define melhor Heróis fora de Órbita que a frase do anúncio - "O show foi cancelado, mas a aventura está recém-começando." Heróis fora de Órbita (Galaxy Quest). Comédia. Direção de Dean Parisot. EUA/99. Duração: 102 minutos. Center Iguatemi 1 às 16 horas, 18 horas, 20 horas e 22 horas. Jardim Sul-UCI 7, às 13h40, 15h50, 18 horas, 20h10 e 22h20 (sexta e sábado também 0h30; sábado e domingo também 11h30). Metrô Tatuapé-Cinemark 5, às 17h05, 19h35 e 22 horas (sexta e sábado também 0h25). SP Market-Cinemark 6, às 11h25, 14h05, 16h25, 18h55 e 21h25 (sexta e sábado também 23h50). Studio Alvorada 1, horário normal. Villa-Lobos-Cinemark 2, às 11h40, 14h10, 16h40, 19h10 e 22 horas (sexta e sábado também 0h20). 12 anos.

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