Há 40 anos morria o mito Marilyn

Atriz americana continua lembrada como símbolo sexual e ícone de uma época

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Há 40 anos, no dia 5 de agosto de 1962, num desfecho ainda nebuloso, Marilyn Monroe sucumbia a uma overdose de barbitúricos. Tinha 36 anos e era símbolo sexual do cinema americano ? quer dizer, era símbolo sexual do mundo. Atire a primeira pedra quem nunca sonhou com essa diva de formas notáveis, olhar malicioso, voz sussurrada, loira e (talvez) tola, uma promessa de sonhos e prazer na mente de cada homem de sua geração. Pois bem, essa moça, filha de uma família remediada, chegou ao estrelato e, no auge da fama, andava se queixando de que em Hollywood pagam uma fortuna por um beijo e nem dois tostões pela alma das pessoas. Quer dizer, sentia-se vampirizada pelo ?sistema?, como se dizia antigamente. Marilyn se foi cedo e isso certamente contribuiu para fazer dela o que é. Fosse hoje uma serena senhora de 76 anos, e adeus mito. Marilyn conserva a aura de quem morre cedo, como James Dean e Che Guevara. Mitos sedimentam e com o tempo evoluem a ícones, espécies de logotipos de um determinado tempo. Dean e o casaco de couro, Che e a boina, Marilyn e sua beleza agressiva, com cabelos louros e bastos, boca carnuda, seios fartos, meio cheinha em tudo, ar no limite entre o sensual e o vulgar. Ícones têm peso psicológico para as pessoas, daí seu valor de mercado. Podem significar rebeldia, liberdade, superação de hábitos puritanos ? enfim, valores positivos para a maioria. A vida de Marilyn pode ser vista como exemplo de construção de um desses ícones contemporâneos. Ela nasceu Norma Jean Baker Mortenson, em Los Angeles, em 1926. Gladys, a mãe, trabalhava em um laboratório da indústria cinematográfica. O pai era um certo Stanley Gifford, que sumiu no mundo. Um dia, Gladys teve uma crise nervosa e foi internada. Norma criou-se em uma instituição e depois passou a viver em diversas casas de família, que terminaram sua criação. Casou-se com 15 anos, em 1942, e separou-se em 1944. A garota já era estupenda, embora fotos de época em nada lembrem o furacão em que Hollywood a transformou. A Fox a contrata em 1946, e já com o nome de Marilyn Monroe faz algumas pontas. Mas só se torna conhecida em 1950, com um pequeno papel em um grande filme, O Segredo das Jóias, de John Huston. Nele, Marilyn interpreta a amante de um advogado corrupto de meia-idade, vivido pelo ator shakespeariano Louis Calhern. Louis dá um banho em cena, mas o espectador também não esquece a figura daquela mocinha loira e de ar felino, que ficava sempre em segundo plano. Havia brilho nela. Esse filme dá a Marilyn a fama e também um estereótipo: loura, burra e gostosa. Ela podia ficar magoada com o clichê, mas no fim talvez tenha se acostumado. E certamente lucrou muito com ele. Costumava dizer, para delírio dos fãs: ?Eu tenho uma boa cabeça. É verdade que não há nada dentro dela, mas mesmo assim é uma boa cabeça.? E o fato é que, bem explorado pelo cinema, o clichê Marilyn funcionou direitinho. Um diretor tão sofisticado quanto Billy Wilder descobriu que Marilyn não era apenas uma loira burra ? ela podia, isto sim, ser muito engraçada fazendo o papel de loira burra. Em O Pecado Mora ao Lado, ela encarna (e como...) a tentadora vizinha de um homem meio bobalhão, Tom Ewell, que está sozinho na cidade porque a família foi passar férias na praia. Em Quanto mais Quente Melhor, considerada a melhor comédia americana de todos os tempos, seu papel é inesquecível. Sugar é uma ninfomaníaca e interesseira que acaba se apaixonando de forma irreversível por Tony Curtis. Vê-la nesse filme, tentando seduzir Curtis ou ciciando a canção I?m in Thru Love, é entender, ou intuir, o que significa e como funciona um mito sexual. Marilyn mostrou, pelo menos uma vez, que podia se dar bem com personagens dramáticos. Em Os Desajustados, o papel lhe foi dado pelo marido, o dramaturgo Arthur Miller, e parece bem uma espécie de súmula autobiográfica da diva, se bem que idealizada. No filme dirigido por John Huston, ela é Roslyn, garota meio leviana, mas que quando se apaixona por seu homem (Clark Gable), assume a função de uma espécie de mãe-terra, tentando preservar um modo de vida em via de extinção. Em suas memórias, Miller disse que o sonho de Marilyn era ser levada a sério como a atriz e por isso ele havia escrito para ela a personagem forte de um filme crepuscular. No entanto, ele lamenta, o papel acabou por destruí-la. Foi seu último trabalho. Marilyn ainda atuou em Something Got to Live, de George Cukor, mas não o terminou. Foi despedida porque vivia drogada e/ou bêbada e não conseguia fazer as cenas. Até hoje sua morte é discutida. Há quem fale em suicídio, ou acidente com barbitúricos. Mas também existem os que defendem a tese de queima de arquivo, pois Marilyn se envolvera primeiro com John Kennedy e depois com Bob, seu irmão. Saberia demais e resistia a terminar o romance com Bob. A teoria conspiratória nunca foi provada, embora haja fãs que a defendam como dogma de fé. Aliás, o culto a Marilyn continua vivo como nunca. Páginas e páginas dedicadas a ela pululam na internet, a começar pela oficial: www.marilynmonroe.com. Deve receber um número recorde de visitas neste aniversário. Ídolos jovens e tristes não morrem jamais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.