'Gravidade' e 'Trapaça' podem ser recordistas, mas edição será de '12 Anos de Escravidão'

Surpresas nas indicações ficaram por conta das categorias de melhor diretor, ator e atriz

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

No Oscar, ao contrário do Globo de Ouro, não existe a divisão de categorias entre drama e comédia ou musical. Existem somente ‘filmes’. Não houve nenhuma grande surpresa entre os indicados para melhor filme. As surpresas, se é que se podem considerar como tal, ocorreram nas demais categorias. Russell, McQueen, Payne, Cuarón e Scorsese concorrem a melhor direção. Scorsese surgiu como um coelho sacado da cartola pela Academia, mas é o ‘visionário’ a que se referiu Leonardo DiCaprio ao aceitar seu Globo de Ouro de melhor ator de comédia da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood. Em anos anteriores, Scorsese liderou o número de indicações com Gangues de Nova York e O Aviador, mas só com Os Infiltrados ele ganhou seu primeiro Oscar como diretor. O Lobo poderia lhe valer o segundo – repare no tempo, o pretérito imperfeito, do verbo. O prêmio do Director’s Guild, o Sindicato dos Diretores, vai esclarecer a questão, mas hoje, na bolsa de apostas, é muito provável que Cuarón repita o prêmio no Globo de Ouro.

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Muitos críticos apostavam suas fichas em Tom ‘Capitão Phillips’ Hanks, ou em Robert ‘Até o Fim’ Redford, mas afinal, Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão, Bruce Dern/Nebraska, Christian Bale/Trapaça, Matthew McConaughey/Clube de Compras Dallas e DiCaprio vão concorrer a melhor ator. Cate Blanchett/Blue Jasmine e Amy Adams/Trapaça repetem suas vitórias no Globo de Ouro e foram indicadas para melhor atriz com Judi Dench/Philomena, Sandra Bullock/Gravidade e Meryl Streep/Álbum de Família.

A categoria atriz coadjuvante tem três fortíssimas concorrentes – Jennifer Lawrence, por Trapaça, Julia Roberts/Álbum de Família e June Squibb/Nebraska. Entre os coadjuvantes masculinos, Jared Leto, de Clube de Compras Dallas, poderá repetir seu Globo de Ouro, mas a ausência de Tom Hanks pode aumentar as chances de Barkhad Abdi. Afinal, todos elogiam a qualidade da interpretação de Capitão Phillips, e ficará chato se o filme não levar nada.

Por enquanto, 12 Anos parece um concorrente tão olímpico que a impressão é que sua vitória será mera formalidade, ou culminação de uma tendência. Pode ser que até o começo de março as coisas mudem – Steve McQueen está longe de ser uma unanimidade e, na premiação dos críticos de Nova York, chegou a ser agredido verbalmente, chamado de ‘human garbage’ (lixo). Picuinhas à parte, seu filme é grande, fazendo uma releitura ou reinterpretação do tema da escravidão como nunca se viu no cinema norte-americano. Ejiofor Chiwetel faz um negro emancipado – livre – que é sequestrado e vendido como escravo numa plantação do Sul. Michael Fassbender, o ator-fetiche de McQueen, faz o sinhozinho brutal cuja diversão é estuprar sucessivamente uma escrava.

O próprio Fassbender, que já fez Hunger e Shame com o diretor, disse que McQueen nunca exigiu tanto dele. Confessa que saiu do set de 12 Anos moralmente exausto, como nunca em sua carreira. A exposição física de Shame – o nu frontal para a câmera – não foi nada perto do aparente vazio emocional do personagem de 12 Anos. Fassbender admite que chegou a perder a consciência numa cerna particularmente forte com Lupita Nyong. “Quando voltei a mim, simplesmente estava em cima dela”, revelou. Não por acaso, ele foi indicado para melhor coadjuvante. É um astro, e Jared Leto e Barkhad Abdi devem tomar cuidado, porque a Academia poderá facilmente se render ao seu charme.

Até pelo fato de haver um afrodescendente na Casa Branca, o presidente Barack Obama, a ‘América’ tem olhado criticamente para seu passado ‘colonial’. Mas não se podem subestimar as chances de Trapaça. O’Russell é queridinho da crítica dos EUA e concorre em todas as categorias principais – filme, diretor, roteiro, ator, atriz e coadjuvantes (Jennifer e Bradley Cooper). A contagem regressiva já começou. Agora é esperar pela grande noite. And the Oscar goes to...

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