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Grandes atrações marcam Festival do Rio no fim de semana

O público pôde ver grandes filmes como "Volver", de Pedro Almodóvar e "The Wind That Shakes the Barley?s", de Ken Loach, vencedor do recente Festival de Cannes

Por Agencia Estado
Atualização:

Fim de semana glorioso para cinéfilos no Festival do Rio. Além do belo filme de Ricardo Elias, "Os Doze Trabalhos", na Première Brasil, o público pôde ver, nas mostras Panorama Internacional e Foco no Canadá, grandes filmes que vão integrar a programação da Mostra BR de Cinema - Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro. Havia gente pelo ladrão, pendurada até no lustre, para assistir a "The Wind That Shakes the Barley?s", de Ken Loach, que ganhou a Palma de Ouro, em maio, e também para "Volver", de Pedro Almodóvar, e o primeiro candidato a cult do evento, "C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor", de Jean-Marc Vallée. Há uma cena do diálogo do novo Almodóvar em que uma personagem diz à outra, ?Hable con ella? (Fale com ela). Não é fortuito. Mais do que no filme que leva este título, agora é que Almodóvar fez "Tudo Sobre Minha Mãe". O filme conta a história dessa mãe que volta como fantasma para assombrar as filhas, em especial a que se afastou dela e está vivendo um momento complicado, pois matou o companheiro que tentou violentar sua filha. Há muitas surpresas na narrativa, a começar pela idéia da mulher-fantasma, que Almodóvar recolheu de tradições orais da região da Mancha, em que nasceu, mas que visita com intenções próprias e um desfecho inesperado. Grande Almodóvar. Já deu de 10 em Brian De Palma, que abriu o festival com sua "Dália Negra" que, a bem da verdade, só funciona como trash, porque é bem ridículo, ao revisitar os códigos do filme noir. Almodóvar também incorpora o noir - e o melodrama e o musical - em seu novo filme, cuja trama é intrincada e cheia de reviravoltas, confirmando, mais uma vez, que o cara tem uma imaginação e uma criatividade fora de série. Almodóvar escreve o roteiro e, depois, ele próprio filma, sendo de perguntar-se se outro diretor qualquer, mesmo o mais talentoso, não iria se perder nesse verdadeiro ?labirinto de paixões?. Ken Loach virou uma raridade no cinema atual - um grande autor que ainda acredita na política e no realismo, fazendo filmes de resistência em pleno mundo globalizado, quando as pessoas são solicitadas a só se interessarem por elas mesmas e no que vão consumir. A história de dois irmãos que integram a oposição armada aos esquadrões ingleses que dominam a Irlanda, por volta de 1920, sacode a tela como o vento que sopra sobre essa vegetação verde que, volta e meia, se tinge de sangue. Os próprios irmãos terminam em campos opostos e Loach, em Cannes, disse o que qualquer pessoa familiarizada com sua obra percebe - ele fez "The Wind" para refletir sobre as divisões na esquerda, ou no que resta dela no mundo global, e para criticar o papel da Inglaterra como aliada incondicional dos EUA de George W. Bush neste novo mundo assustador. Os atores, Cillian Murphy e Pádraic Delaney, são geniais - e, por favor, não se confunda o realismo visceral de Loach (a fatia de realidade filtrada pelo olhar dele, como diria Michael Haneke) com o realismo caricatural de Mike Leigh em "Vera Drake", por exemplo. O filme canadense é maravilhoso, podendo fazer-se uma ponte entre "C.R.A.Z.Y." e "Rocco e Seus Irmãos", de Luchino Visconti. Ambos são filmes sobre a família, simultaneamente como fonte de danação e elo de união; ambos tratam de cinco irmãos; nos dois há um que precisa ser sacrificado para que a família, enfim, se una; e aqui o pai substitui a mãe como figura dominadora. Tudo isso é verdade, mas o mais inesperado é que o personagem que seria Rocco é agora um gay que precisa vencer o próprio preconceito para sair do armário. Quanto ao filme de Ricardo Elias, essa história de motoboys tem a cara de São Paulo. Em nenhuma outra cidade existe essa cultura do motoboy como aqui. O filme é muito bom, muito maduro. Marca uma evolução de Elias em relação a seu longa anterior, "De Passagem". Houve críticos que reclamaram da ausência de clímax, que mantém o filme, a despeito de seu experimentalismo formal, nos limites de uma linearidade de tom. O próprio Elias explica: seu cineasta preferido é Eric Rohmer. Um devoto de Rohmer pode até refletir sobre o mundo de "Cidade de Deus", mas não tenta refazer nem imitar o filme impactante de Fernando Meirelles.

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