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Gramado ganha o "kikito" de desorganização

Por Agencia Estado
Atualização:

Encerrou-se na noite deste sábado o 28º Festival de Gramado ? Cinema Latino e Brasileiro com a entrega dos kikitos aos grandes ganhadores do festival. Esta edição deixou questões quanto ao seu formato, duração e popularidade. Mas não foi, certamente, um festival discreto. Muito público, muitas estrelas, muitos eventos, muitos motivos que deram ao menos uma certeza: foi um acontecimento de sucesso. A premiação trouxe algumas surpresas. A principal foi o surgimento repentino, anunciado em palco, de duas categorias novas: Melhores Ator e Atriz Coadjuvantes. Os veteranos Ulises Dumont, do argentino El Mismo Amor, La Misma Lluvia, e Lídia Mattos, de Eu Não Conhecia Tururu levaram os primeiros kikitos dessa categoria da história do festival. Lídia Mattos foi homenageada no início da noite pelos 60 anos do filme Argila, no qual foi dirigida por Humberto Mauro. O prêmio à Melhor Atriz foi dividido por Daisy Granados, do cubano Las Profecias de Amanda, e Maria Zilda Bethlem por Eu Não Conhecia Tururu, o que também surpreendeu. A dupla mais-que-perfeita para a divisão do prêmio seria a própria Daisy mais a mexicana Dolores Heredia, que já abocanhou diversos prêmios de atuação em outros festivais com este filme. Maria Zilda não estava mal, mas Dolores teve uma atuação notavelmente superior, o que tornou a escolha estranha. Tanto que o platéia vaiou a premiação de Maria Zilda, enquanto Daisy foi ovacionada. Muito emocionada, a atriz cubana quase chorou nos seus agradecimentos. "É uma tremenda surpresa, uma tremenda alegria! ?Gracias? à família! ?Gracias? aos amigos! ?Gracias? a Cuba! ?Gracias? ao Brasil!", comemorou. Já Florinda, que está abertamente brigada com Maria Zilda, mal disfarçou sua indiferença pelo prêmio, que foi buscar em nome da atriz, ausente no festival. O kikito ao ator Salvador del Solar, também por Pantaleón?, não foi desmerecido, mas também não era ele entre os participantes o mais excepcional. Genézio de Barros, de Quase Nada, por exemplo, foi soberbo na interpretação de Ademir. Para não citar o cubano Jorge Perugorría, do longa Estorvo, de Ruy Guerra. Aliás, quanto aos kikitos à Pantaléon y Las Visitadoras, o prêmio de melhor roteiro poderia ter sido mais bem aproveitado, talvez para El Mismo Amor, La Misma Lluvia, de Juan José Campanella. Sem querer diminuir a história do filme, mas deve-se lembrar que é uma adaptação de livro (como Estorvo), e já que a organização se deu o luxo de criar novos prêmios em meio ao encerramento, por que não inventar um para melhor roteiro adaptado? É uma idéia a se pensar. Fora isso, todos os outros prêmios à Pantaleón além de já serem esperados, foram muito bem merecidos. A ótima obra de Francisco J. Lombardi firma o diretor como o melhor do cinema peruano. Com uma sagacidade certeira, Lombardi é um diretor de obras literárias, sempre bem sucedido em suas adaptações. Seu filme anterior, Bajo la Piel, de 1996, também havia sido um sucesso de crítica e sua direção foi bastante elogiada e premiada. Não poderia ser diferente com esse filme, cujos direitos para a exibição no Brasil já estão acertados. "Já estamos com uma cópia no Rio de Janeiro, e se houver mais interesse logo devem circular outras cópias em salas importantes do Brasil", disse o produtor Alexander Katzowicks, que veio representar o longa no festival. A certa altura ele já não sabia mais o que fazer com tantos kikitos. "Vou ter que comprar mais uma mala!" Avaliação ? Apesar do festival ter ganhado o kikito de melhor desorganização (o auge foi a noite de encerramento, onde havia muito mais pessoas que lugares no Palácio dos Festivais), o evento superou expectativas quanto ao número de visitantes, quanto à qualidade das suas produções (principalmente nos curtas-metragens), e quanto à sua popularidade. Levando em consideração o aumento de interessados no festival, pode até parecer incipiente criticar a organização. Mas analisando a estrutura pró-tietagem que, essa sim, foi muito bem organizada, a crítica é válida. "Gosto das fãs e acho que devemos a elas muito carinho, mas isso aqui está um pouco exagerado", confessou o ator Selton Melo. No mais quase não houve falhas. Pela primeira vez se centralizou o festival num raio de 200 metros, na região central, onde aconteceram todas as atividades oficiais. Nem que isso fosse motivo de crítica, uma mostra paralela em bairros afastados levou à periferia gramadense filmes como Ilha das Flores, de Jorge Furtado, e Pra Frente Brasil, de Roberto Farias. Muitos debates e encontros importantes, como uma continuação do 3º Congresso de Cinema Brasileiro, e o Encontro da Associação dos Festivais de Cinema Ibero-Americano, que trouxe diversos diretores importantes. Para completar, aconteceram debates diariamente, com sessões quase sempre cheias, e a mostra fez homenagens mais que justas: ao ator Paulo José, ao cineasta Roberto Farias, e ao incentivador e diretor do Festival de Cartagena, Victor Nieto. O diretor de Passadouro, o Melhor Curta do festival, o paraíbano Joel Torquato, veio pela primeira vez ao festival e disse estar impressionado. "O festival mostrou um vigor enorme, com uma qualidade de produção muito boa também", comentou, destacando o avanço do curta-metragens. "Sou um curta-metragista assumido. É o que eu gosto de fazer, e me alegra ver que Gramado está dando tanto espaço ao curta". O cubano Pastor Vega, diretor do filme Las Profecías de Amanda, já é um visitante antigo do festival, e disse perceber que o festival a cada ano está mais importante. "Foi excelente, um grande festival". Sobre a esposa Daisy Granados, que ganhou o kikito de Melhor Atriz junto com Maria Zilda Bethlem, afirmou ser das maiores conquistas do filme desde que ficou pronto. Sérgio Rezende, diretor que ganhou kikito pelo Melhor Filme Brasileiro, também elogiou, dizendo nunca ter visto Gramado tão movimentada. "Isso é bom, na verdade, queremos que bastante gente veja aos nossos filmes", disse. Esdras Rubim, coordenador geral do Festival de Gramado, não escondia a satisfação. "Estou muito feliz! Conseguimos realizar um belo festival, que consolidou nossos planos de integração como nunca havíamos imaginado, sem nos deixar abater por umas especulações sem juízo", disse referindo-se ao desejo de alguns envolvidos de que o festival voltasse a ser só brasileiro. "Para quê isso? Olha só que encontro maravilhoso que conseguimos fazer todo o ano!" O jornalista Hiron Goidanich, que faz parte da Comissão Executiva do Festival, também ficou feliz com o resultado final: "Este ano tive várias surpresas principalmente nas paralelas. A primeira foi a presença de 1,3 mil crianças que compareceram ao auditório no primeiro dia de exibição de Tainá, de Tânia Lamarca. Depois, os quase 90 sem-terra que foram ver O Sonho de Rose ? 10 Anos Depois, e sairam em lágrimas do cinema, como os oficiais da FAB que viram o documentário Senta a púa!. São esses momentos emocionantes que dignificam Festivais, como o de Gramado".

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