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Governo quer criar indústria brasileira do cinema

Foi instituído o Grupo Executivo do Desenvolvimento da Indústria do Cinema no Brasil, que vai articular e supervisionar ações para transformar o cinema nacional em setor produtivo

Por Agencia Estado
Atualização:

Combater a hegemonia cinematográfica norte-americana, promover maior integração entre cinema e televisão e baixar o preço do ingresso são algumas das metas do recém-implantado Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria do Cinema no Brasil. Criado na última quarta-feira em Brasília, por decreto, o grupo terá seis meses para elaborar propostas e encaminhá-las ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Caberá ao grupo articular, coordenar e supervisionar as ações para a implantação de uma indústria de cinema no País. A novidade é que o grupo tem caráter interministerial, envolvendo os ministérios das Comunicações, da Fazenda e do Desenvolvimento, além do Ministério da Cultura. "Para converter uma atividade em indústria é preciso a cooperação de vários ministérios. Até então, só o Ministério da Cultura respondia pelo cinema, sendo que muitos dos problemas que o setor enfrenta atualmente são tipicamente industriais´´, disse o ministro da Cultura, Francisco Weffort. O ministro afirmou que a Lei do Audiovisual foi apenas o "primeiro passo´´ para a implantação da indústria do cinema nacional. "A lei deu um impulso, já que a produção entre 1994 e 1999 foi de 114 filmes. Alguns títulos da retomada, como O Quatrilho, chegaram a dar lucro aos seus investidores. Mas não é possível dar continuidade a esse trabalho sem criar mecanismos econômicos e comerciais para o efetivo desenvolvimento do setor.´´ Além dos ministérios já citados, integram o grupo a Casa Civil da Presidência da República, que coordenará os trabalhos, a Secretaria-geral da Presidência, a Secretaria de Comunicação de Governo e mais cinco representantes das áreas de produção, direção, pesquisa, distribuição e televisão (voltada à produção e exibição de filmes). Pedro Parente, ministro-chefe da Casa Civil, nomeou como representantes do grupo - que realiza o primeiro encontro no próximo dia 25 - Luiz Carlos Barreto (produção), Carlos Diegues (direção), Gustavo Dahl (pesquisa), Rodrigo Saturnino Braga (distribuição) e Evandro Guimarães (televisão). Segundo o decreto que criou o grupo, a função dos membros não será remunerada - sendo considerada de "relevante interesse público´´. Pensar grande - "Fomos orientados a desenvolver um plano estratégico para a estruturação da indústria. E o presidente frisou que devemos "pensar grande". Pensar na consolidação da indústria do cinema como se fosse o setor automobilístico, siderúrgico ou naval. Precisamos inserir o cinema no contexto econômico, sem esquecer de suas características culturais´´, afirmou Luiz Carlos Barreto. O produtor contou que o presidente pediu empenho do grupo na criação de propostas para integrar cinema e televisão. "Em vários países da Europa, a televisão desempenha papel importante no desenvolvimento da indústria do cinema. No Brasil, como a TV é uma potência, precisamos diminuir a distância entre os dois veículos.´´ A produtora Mariza Leão espera que os representantes nomeados pela Casa Civil façam suas propostas a partir de diálogos com a classe. "Precisamos definir quais são as medidas em caráter de urgência e as medidas de estruturação do setor. O cinema apresenta vários problemas crônicos, que exigem ação imediata, principalmente com relação à distribuição e ao lançamentos de filmes.´´ Ingresso caro Na opinião do ministro Weffort, uma das principais questões a ser estudada pelo grupo é a redução no preço do ingresso. "O cinema nacional é o principal prejudicado com o alto custo da entrada de cinema. O público que prefere filmes brasileiros, por razões de identidade cultural e por rejeitar as produções legendadas, não pode pagar pelo ingresso´´, comentou Weffort. O ministro acrescentou que o público freqüentador de salas de cinema não ultrapassa atualmente 7,5 milhões de pessoas no País. "Levando em conta a nossa população, de mais 160 milhões, o número é muito baixo.´´ O ministro destacou que, se o preço do ingresso fosse mais acessível, Eu, Tu, Eles, o principal filme brasileiro atualmente em cartaz, já teria atraído muito mais que 450 mil espectadores - público desde a estréia, em 18 de agosto. "Por trazer atores conhecidos do grande público, o filme teria condições de competir com as produções estrangeiras. Mas, para isso, o cinema deveria passar por democratização do ponto de vista econômico´´, disse Weffort.

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