'Gosto de surpreender meus atores', diz Ken Loach

Em Cannes pela 11ª vez, diretor fala sobre seu novo longa, 'The Angels Share'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

CANNES - Até o ano que vem - Ken Loach ri da observação final do repórter. O diretor inglês é um dos cineastas que mais vezes estiveram aqui em Cannes - são 11 participações e uma Palma de Ouro (em 2006, por Ventos da Liberdade). O novo Ken Loach chama-se The Angels Share, A Parte dos Anjos, e é sobre um grupo de marginalizados que cumpre serviço comunitário, o último estágio antes da cadeia. Sem chance de integração, numa sociedade que os rejeita, eles planejam roubar um barril raro de uísque. O tom é de comédia. Bom de drama, Loach talvez seja melhor ainda em suas raras comédias.

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O que veio antes em The Angel’s Share, os garotos no tribunal ou a ideia do roubo do uísque?

As coisas são sempre muito orgânicas. Mas eu diria que foi o roubo do uísque. Num mundo que os rejeita, o que esses jovens podem fazer? Não quero ser cínico, dizendo que os bancos e os patrões também roubam, mas é o que todo mundo pensa, não? O roubo do uísque parecia uma ideia interessante e Paul (Laverty, o roteirista), que é advogado, há tempos queria abordar a questão do serviço comunitário. Quando se trabalha junto, como nós, é preciso estar na mesma sintonia. Tenho a impressão de que os roteiros que ele me propõe são cada vez mais ricos e complexos. Mesmo quando trabalha com estereótipos, ele propõe algo novo e verdadeiro.

Por que uma comédia?

Nosso filme anterior, Irish Route, sobre o Iraque, era muito pesado, com um final que deixava muitos espectadores aflitos ou frustrados. Até como reação contrária, pensamos - por que não algo para se ver sorrindo? Nada mudou na nossa maneira de ver o mundo, ou de como ele trata essas pessoas, mas os próprios personagens têm um olhar mais humorado e eu diria engenhoso na maneira de enfrentar a crise. Essa engenhosidade é que nos interessava.

Entrevistei Peter Greenaway outro dia e ele se exaspera quando os diretores põem na tela o mundo tal como o vivemos. Ninguém é mais realista que você. O que pensa a respeito disso?

De eu ser realista? Não vou polemizar com Peter Greenaway, ele faz o cinema dele, eu faço o meu. Mas eu venho de um meio operário. É o mundo que conheço e me interessa retratar. Tragédia ou comédia, é tudo a mesma coisa e os atores... O que espero deles é que pareçam reais para o público. Não quero falsificar nada. Paul Brannigan, que faz um dos protagonistas, nunca atuou antes, mas é inteligente, divertido e muito humano. É esse o meu prazer, trabalhar com gente como a gente.

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Como você consegue atuações tão espontâneas?

Há sempre pequenos truques. Instruções que dou para um ator, não para o outro, coisas assim. Gosto de surpreender os atores nas cenas para que eles me surpreendam, também.

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