Gong Li está de volta em 'A Maldição da Flor Dourada'

Em entrevista, atriz fala sobre sua personagem e sobre o diretor Zhang Yimou

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Por Luiz Carlos Merten
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Ela tem um dos rostos mais belos do mundo e, não por acaso, foi escolhida pela L’Oréal para representar a beleza feminina. Gong Li é mito dos últimos 20 anos, desde que surgiu em O Sorgo Vermelho, de Zhang Yimou, consagrado no Festival de Berlim de 1987. Depois vieram mais seis filmes com o diretor, incluindo A História de Qui Ju, que lhe deu o prêmio de melhor atriz em Veneza. Em 1997, eles romperam, ou pelo menos Gong Li deixou de ser a atriz-fetiche de Zhang. Mas ela volta agora no admirável fecho da trilogia de artes marciais do cineasta chinês. Após Herói e O Clã das Adagas Voadoras, ela brilha ao lado de Chow Yun-fat no melhor dos três, A Maldição da Flor Dourada. O filme possui acentos shakespearianos - é o Rei Lear de Zhang - e Gong Li é poderosa, como mulher e atriz, na pele da imperatriz que está sendo envenenada pelo marido, enlouquecido pelo poder. Relegado a circuito reduzido (só duas salas), o filme merecia mais atenção da distribuidora Sony e do público. A seguir, a palavra de Gong Li, em entrevista por e-mail, de Pequim. Veja também: Trailer de 'A Maldição da Flor Dourada' Como você se sente retornando ao cinema de Zhang Yimou e num filme tão diferente dos de antes? Fiquei muito feliz por trabalhar de novo com ele. Quando ele me mostrou o roteiro, fiquei fascinada. Ele me oferecia um papel forte, que eu sabia que poderia interpretar. Não era muito diferente dos anteriores e, ao mesmo, era totalmente novo. Afinal, nunca havia representado uma imperatriz. E o importante é que o filme teria todos os elementos do estilo pessoal de Zhang - uma história dramática, emoções muito fortes e o esplendor visual. Mesmo que não tenhamos estado juntos por dez anos, assim que o trabalho começou foi tudo muito natural - era como se eu tivesse voltado para uma família, a minha família. A gente conseguia falar tudo, com franqueza e sinceridade. E o mesmo valia para o restante da equipe, embora tenha de ser honesta dizendo que me relacionava melhor com Chow Yun-fat do que com os nomes jovens do elenco, como Jay Chou. Nossa família por trás das câmeras era o oposto da outra, na tela, que passa o tempo todo tentando se destruir, na luta pelo poder. Se tirarmos as esplêndidas cenas de ação, o universo familiar não é muito diferente do retratado em Lanternas Vermelhas, concorda? Tudo no filme se expressa na interação de seus vários elementos: a emoção dos personagens, os conflitos entre eles e a maneira como interagem com o espaço físico. E como se trata de um palácio real, cada gesto adquire um significado extra, pois essas pessoas não são como as outras. Nesse sentido, o drama fica bem mais intenso que em Lanternas Vermelhas. As cenas de ação também aumentam a voltagem do filme, pois são parte integrante da história. A diferença é que Zhang hoje possui u orçamento maior. Você pode ver o resultado na cena da grande batalha. Ao contrário do que muita gente pensa, não há muitos efeitos computadorizados. Zhang dispôs de centenas e centenas de extras. Mas não precisei lutar com minhas mãos. Uma imperatriz tem quem lute por ela. Sua personagem pode ter raízes na tradição chinesa, mas é universal. A história parece beber no Rei Lear de Shakespeare. Como você a criou? Para mim, mais importante é que é uma mulher. Tem sentimentos, desejos, sabe o que quer e tenta consegui-lo, seja sexo ou poder. Mas ela também é a imperatriz e esse me parece o paradoxo na essência da história. Ela está acima de todos na hierarquia, abaixo apenas do imperador. E ele é seu marido. Por isso, a imperatriz vive o dilema de estar pesa entre o que quer e o que pode fazer. Gostaria que o público visse o filme não só como um espetáculo, mas como uma reflexão sobre as relações de poder no mundo atual. Foi o que me atraiu. Zhang dá liberdade ao ator? Ele passa muito tempo com cada ator, discutindo não só o roteiro mas também a história como um todo e o papel de cada personagem, suas experiências anteriores, tudo o que não está escrito, mas pode ajudar a criar o drama de forma mais complexa. Assim, o ator consegue sentir o personagem na totalidade, o que inclui os sets e figurinos. Por exemplo, tentamos várias formas de mostrar o efeito gradual do envenenamento. O suor na face da imperatriz, o tremor de suas mãos. Para mim, essa cooperação entre diretor e ator é muito importante. Você é a cara do cinema chinês no mundo. Como é ser uma estrela na China em transformação? Quando começamos a fazer cinema, Zhang e eu, não pensávamos em publicidade e marketing. Mas o mercado e a mídia foram crescendo e essas coisas passaram a ser importantes. Hoje há muitas reportagens sobre astros da China também tem seus paparazzi para atender a essa demanda. Todo mundo tem celular, as pessoas estão sempre tirando fotos, onde quer que você esteja. Mas sinto menos pressão quando estou em casa. Nós, chineses, somos um povo educado. Mesmo quando me identificam e querem cumprimentar, as pessoas sabem que sou um ser humano e me respeitam. Cannes virou uma espécie de segundo lar para você. Como é estar na Croisette? Quando fui pela primeira vez a um grande festival, era tudo novo e excitante e estava ali para promover filmes em que acreditava. Hoje, vou a Cannes mesmo sem filmes. Para mim, virou uma chance de reencontrar amigos de todo o mundo que pertencem a esse mesmo universo do cinema. Para terminar, uma indiscrição. Qual é o seu segredo de beleza? (Rindo) Mais importante é sempre uma boa noite de sono!

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