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Godard ganha retrospectiva do CineSesc

Por Agencia Estado
Atualização:

Susan Sontag comparou-o a Picasso e Schöenberg. Não exagerou: Jean-Luc Godard foi mesmo um dos maiores artistas do século passado. Continua sendo um gênio neste século recém-iniciado. Para confirmá-lo, você ganha, a partir desta sexta-feira, a ajuda da distribuidora Filmes do Estação. Depois de reprisar quase todo François Truffaut - um dos raros filmes que ainda faltam, A Sereia do Mississippi, deveria reestrear amanhã, mas ficou transferido para sexta que vem -, o grupo Estação promove uma retrospectiva formada por 15 filmes do grande Jean-Luc. Inclui desde obras clássicas - se é que se pode definir como ´clássico´ um autor tão revolucionário - como Uma Mulher É uma Mulher, Alphaville, O Desprezo e O Demônio das Onze Horas - até um filme recente e ainda inédito como O Elogio do Amor, que teve só uma sessão na cidade, no encerramento da Mostra BR de Cinema, no ano passado. Só não adianta procurar pelo primeiro grande filme de Godard. Acossado (À Bout de Souffle) não integra a programação. Você não poderá ver Jean-Paul Belmondo, como Michel Poiccard, o gângster que foge da polícia ajudado pela Patriciá de Jean Seberg, que vende exemplares do New York Herald Tribune nos Champs Elysées. Os críticos não se cansam de dizer que a história é o que menos importa nesse filme. O importante é como Godard a desconstrói e, ao fazê-lo, investigando os gêneros tradicionais de Hollywood, propõe o que não deixa de ser o manifesto da nouvelle vague e todos os novos cinemas que sugiram nos anos 60. Pode faltar o opus 1, mas o que a retrospectiva traz oferece um panorama bastante amplo do cinema segundo Godard. Numa cena de O Pequeno Soldado, um personagem diz que a fotografia é a verdade e o cinema é a verdade 24 vezes por segundo. É bom desconfiar dessas verdades absolutas. O próprio Godard sabe disso. Como seu mestre Roberto Rossellini, homenageado em Tempo de Guerra, ele sabe que a realidade no cinema é só aparência e não consciência. Foi o que o impulsionou à realização de O Desprezo. O filme é uma adaptação de Alberto Moravia, tanto quanto um filme de Godard consegue ser adaptado de quem quer que seja. Godard investiga a mentira do cinema, que hoje identifica no modelo hegemônico de Hollywood, atacado em O Elogio do Amor. Em O Desprezo, Brigitte Bardot, o maior mito feminino do cinema francês, é casada com o roteirista Michel Piccoli, que trabalha num filme dirigido pelo mestre alemão Fritz Lang. É uma adaptação da Odisséia, com estátuas no lugar de gente. Admira que Brigitte não consiga ser fiel como Penélope? A mentira é tão grande que o produtor é um gângster norte-americano (Jack Palance) que saca da pistiola cada vez que ouve a palavra cultura. Uma Mulher é o tributo de Godard à beleza e ao talento de Anna Karina, com quem foi casado. Ela também está em O Demônio das Onze Horas (Pierrot le Fou), Alphaville e Made in USA. Godard nunca parou de surpreender. Em Mozart Para Sempre, mesmo desconfiando do cinema, mostra que a única salvação está na arte. O cinema, decididamente, mudou depois dele. Serviço - O Cinema Segundo Jean-Luc Godard. Filmes do diretor. Sexta, às 15h30, ´Para Sempre Mozart´/96, dur. 85 min.; sexta, às 17h30, ´Detetive´/85, dur. 95 min.; sexta, às 19h30, ´Carmen de Godard´/84, dur. 85 min.; sexta, às 21h30, ´Paixão´/82, de Anne Marie Mielville e Jean-Luci Godard, dur. 87 min. Sábado, às 15h30, ´O Pequeno Soldado´/60, dur. 87 min.; sábado, às 17h30, ´Tempo de Guerra´/63, dur. 78 min.; sábado, às 19h30, ´Alphaville´/65, dur. 98 min.; sábado, às 21h30, ´O Demônio das 11 Horas´/65, dur. 115 min. Domingo, às 15h30, ´Nouvelle Vague´/89, dur. 89 min.; domingo, às 17h30, ´Uma Mulher É uma Mulher´/61, dur. 84 min.; domingo, às 19h30, ´Elogio ao Amor´/2001, dur. 97 min.; domingo, às 21h30, ´Made in USA´/66, dur. 90 min. Diariamente. R$ 6,00, R$ 8,00 e R$ 10,00. CineSesc. Rua Augusta, 2.075, tel. (0xx11) 3064-1668. Até 21/2

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