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Globo de Ouro estreia temporada de premiações com uma Hollywood em transformação

Cerimônia será realizada neste domingo, 7, a partir das 23h (horário de Brasília)

Por Pedro Antunes
Atualização:

Há quem aponte o estrondo do filme Mulher-Maravilha como o pontapé de tudo isso que se vê em Hollywood – uma super-heroína, enfim, ocupou o lugar central nos grandes pôsteres espalhados pela Times Square. Outros vão direto na fonte, nas primeiras acusações de assédio sexual contra o superprodutor Harvey Weinstein, responsável por dar força a mulheres e homens – principalmente elas – para expor o que há de sórdido nesse show biz.

Cena do filme 'The Post' Foto: Niko Tavernise

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Há muito a ser feito, é verdade, mas o sangue dos abusadores – metaforicamente falando, é claro – já escorre pela calçada da fama e fez tremer a estrutura do letreiro mais famoso do mundo. A cerimônia de entrega do Globo de Ouro, realizada neste domingo, 7, contudo, é o início desse novo momento. 

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A festa – transmitida no Brasil pelo canal por assinatura TNT a partir das 23h – terá o comando do ator e comediante norte-americano Seth Meyers, mas o protagonismo deve ser dos protestos e dos discursos firmes. É o primeiro grande encontro das figuras mais importantes do mercado do cinema – e da TV –, com a chance de alcançar milhões de televisores ao redor do mundo.

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Essa chance não deve, nem vai, ser desperdiçada. O Globo de Ouro de 2018 não será como do ano anterior. A começar pela iniciativa Time’s Up, que pede às mulheres para vestirem preto na cerimônia

Em 2017, consagraram-se La La Land – Cantando Estações e Moonlight – Sob a Luz do Luar, os dois filmes que seguiram parelhos na disputa pelo Oscar de melhor longa, vencido pelo segundo, após uma patacoada digna de uma esquete d’Os Trapalhões.

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No ano passado, por exemplo, Casey Affleck, de Manchester à Beira-Mar, levou o Globo e o Oscar como melhor ator. Na época, a atriz Brie Larson fez um protesto silencioso porque o irmão mais novo de Ben Affleck tinha, contra si, acusações de assédio sexual de duas mulheres. Mas só. Em 2018 uma cena como essa jamais seria cogitada. Ainda bem. 

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É o ano em que as injustiças tentam ser equilibradas. Embora Corra! concorra na esdrúxula categoria de “musical e comédia”, o filme coloca o dedo em uma ferida ainda aberta no mundo e nos Estados Unidos, a segregação racial. Alternando entre ironia e o preconceito escancarado, o longa de Jordan Peele é uma fantasia tão real que atormenta.

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No lado dos filmes classificados como drama, Me Chame Pelo Seu Nome levanta a questão do amor entre dois rapazes de maneira sublime e delicada – o Globo, contudo, deve ficar com os figurões The Post – A Guerra Secreta, de Steven Spielberg e estrelado por Meryl Streep e Tom Hanks, ou Dunkirk, o épico de guerra de Christopher Nolan. 

Tormenta mental também produz a série The Handmaid’s Tale, baseada no romance O Conto da Aia, de Margaret Atwood, a verdadeira bicho-papão dessa temporada de premiações, quando o assunto for TV. Nesse futuro distópico, as mulheres ainda férteis são poucas e são usadas exclusivamente para reprodução.

Elisabeth Moss em cena da série 'The Handmaid's Tale' Foto: George Kraychyk/Hulu/AP

O mundo vive em um regime totalitarista, de extremismos religiosos e agressões contra as mulheres. Um mundo no qual não houve tempo para o surgimento do filme da Mulher Maravilha ou das acusações contra alguém como Weinstein. Portanto, que o Globo de Ouro faça valer a realidade de hoje, cada vez mais distante da obra de Atwood.