Glauber Rocha inspira programa de debates

Os cineastas Paula Gaitán e Eryk Rocha criaram o programa "Cinema e Pensamento", que estréia no dia 14 no Canal Brasil

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pensar o cinema é tão importante quanto fazer. E falar sobre o assunto dá tanto prazer quanto assistir a bons filmes. Com essas idéias na cabeça, os cineastas Paula Gaitán e Eryk Rocha (viúva e filho de Glauber Rocha) criaram o programa "Cinema e Pensamento", que estréia no dia 14 no Canal Brasil e teve uma prévia ontem, no Centro Cultural da Justiça Federal, dentro da programação do Festival do Rio. Serão quatro programas, sempre aos sábados, às 21 horas, em que o assunto é cinema e a conversa, ilustrada com filmes. Os temas serão política, documentários, processo criativo e a fronteira entre cinema e outras formas de expressão. As falas, em sua maioria, são de debates realizados por Paula e Eryk desde 2002, juntando cineastas, roteiristas e críticos, sobre o papel dessa mídia hoje e no passado, especialmente a partir do Cinema Novo, movimento dos anos 60 que até hoje une os participantes. Não por acaso, nos quatro programas, um discurso de Glauber Rocha apresentando o programa "Abertura", na TV Tupi, em 1979, ?costura? os diversos depoimentos e trechos dos filmes. Na época, a distensão política começava e Glauber era crucificado pela esquerda por ter elogiado os militares que a concediam. "Os debates que realizamos três anos seguidos foram fortes e achamos que deveriam ter mais divulgação. A parceria com o Canal Brasil chegou no momento ideal", disse Paula, após a exibição dos quatro programas, cada um com quase meia hora de duração. "A presença de Glauber se justifica porque ele era uma pessoa brilhante, um pensador à frente de seu tempo e eu queria saber se as questões que ele levantava há mais de 25 anos ainda são atuais." São, sim. Especialmente quando ele fala da dificuldade de se colocar o cinema nacional nas salas do Brasil, segundo Glauber em "Abertura", 4 mil naquela época, mas menos de 500 em condições de uso. Sua fala se completa com a do diretor argentino Fernando Solanas, que define a relação do cinema com a TV e de como os cineastas devem (e podem) evitar trazer para a telona o que o público já vê na telinha. Há ainda fala da crítica Ivana Bentes, de Júlio Bressane, Suzana Amaral, Geraldo Sarno, do secretário de Audiovisual do Ministério da Educação Orlando Senna e muitos outros cineastas. O já falecido Joaquim Pedro de Andrade (cujo seminal "Macunaíma" acaba de ser restaurado) num tom mais contido, concorda com o discurso empolgado de Glauber. Cenas de mais de 50 filmes do arquivo do Canal Brasil comentam as falas, ora com ironia, ora enfatizando o que é dito. Como pensar é atividade de filósofos, de 2004 para cá eles também participaram dos debates. Juan Posada, Alterives Maciel e outros misturam suas idéias com as dos cineastas, mas em momento nenhum se tenta chegar a uma conclusão. "Não queremos chegar a uma verdade comum a todos. Isso cabe ao jornalismo, que vende a verdade como dogma", avisa Eryk. "O importante é debater idéias, trazê-las à tona, porque cada um aprende com o pensamento do outro."

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