Gérard Depardieu volta às telonas em 'Quando Estou Amando'

Filme de Xavier Giannoli aborda universo dos salões de danças por meio de um cantor que se apaixona por jovem

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Por Luiz Carlos Merten
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Nos últimos anos, Gérard Depardieu tem se dedicado tanto às suas vindimas que Guillaume, o filho com quem ele não mantém as melhores relações, assumiu a defesa do bom nome da família na arte da representação. Guillaume revelou-se um grande ator em Ne Touchez Pas la Hache, que Jacques Rivette, um dos autores mais importantes do cinema francês, adaptou de A Duquesa de Langeais, de Balzac. Mas volta e meia Gérard Depardieu volta à cena para que ninguém se esqueça do ator maravilhoso que é. Isso ocorre agora em Quando Estou Amando (Quand J’Étais Chanteur), de Xavier Giannoli, e voltará a ocorrer na semana que vem, quando estrear Astérix e Obélix nos Jogos Olímpicos, no qual ele volta à pele do gordo companheiro do ‘gaulois’ criado pela dupla Uderzo e Goscinny.   Veja também: Trailer de 'Quando Estou Amando'     Há dois anos, nove entre dez críticos eram capazes de apostar que Gérard Depardieu ganharia o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes por seu papel no filme de Giannoli. No final, quem levou o troféu foi Tommy Lee Jones, por Três Enterros, mas o retrato que o ator faz de um cantor de baile veio marcar pontos em seu currículo extraordinário, que inclui filmes com François Truffaut, Maurice Pialat e Bertrand Blier. Como Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, Quando Estou Amando aborda o universo dos salões de danças por meio desse velho cantor, um tanto fora de forma (física), que se apaixona por uma jovem divorciada enquanto recicla clássicos do cancioneiro romântico - que o próprio Depardieu canta. São 14 canções e algumas delas você vai reconhecer como hits de Julio Iglesias.   "A idéia de Xavier era resgatar canções que geram sentimentos e que nos permitem encontrar nossas verdades individuais", disse o ator num encontro com um pequeno grupo de jornalistas promovido no estande da Unifrance. Ele admite que o cinema não é mais sua prioridade, e talvez nunca tenha sido, porque mais importante é viver. Mas o cinema pode ajudar no processo. "O personagem tem humanidade, é autêntico e isso universaliza sua história. Acho que é um personagem que pode falar às platéias de todo o mundo." Depardieu diz que foi gostoso cantar. "Xavier permitiu que eu participasse da escolha das canções. Favoreci as que sabia que conseguiria cantar. Mais do que a técnica, o que importa, no caso de Alain - o personagem - é a emoção. " Nada de som nem de fúria, apenas uma história simples. Mas é preciso desconfiar dessa simplicidade e não confundi-la com pobreza. Há exatamente dez anos, em 1998, Xavier Giannoli ganhou a Palma de Ouro do curta-metragem, em Cannes, por A Entrevista. Passaram-se oito anos antes de que ele voltasse a Cannes com seu primeiro longa.   "Xavier é amigo de Christophe. Eram vizinhos e viram seus primeiros filmes juntos. Paradis Perdus foi um choque para ele, com seu cantor de terno branco. Veio daí a atração pela figura do cantor. Xavier fez uma extensa pesquisa para construir Alain. A origem deste filme é quase documentária, de tal maneira ele procurou se documentar sobre os personagens e os ambientes. Xavier foi a salões de bailes de periferia, de terceira idade. Entrevistou o público, cantores. Um deles o impressionou particularmente, Alain Chanone. Foi o modelo para Alain e Xavier o incluiu no elenco, como meu adversário", conta Depardieu.   E o ator continua - "Seria um risco muito fácil cair no patetismo, mas Xavier conseguiu evitá-lo. Seu filme não é sobre um fracassado que queria ser astro e agora canta em salões decadentes. Foi justamente o que me atraiu em Quando Estou Amando. Alain quer agradar a seu público, quer agradar à mulher por quem está apaixonado (interpretada por Cécile de France, que Mathieu Amalric leva ao salão). Mas ele quer agradar a todos sem abrir mão da própria identidade. Acho que é uma bela definição do papel do artista. O tema de Quando Estou Amando é a dignidade", diz o ator. Para a colega de elenco, Cécile de France, ele não poupa elogios. "Cecile é bela, delicada, mas possui muita força interior. Quanto mais os diretores perceberem isso, mais papéis importantes vão lhe dar."

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