Gene Hackman encarna ladrão de jóias nas telas

Apesar dos 72 anos, de quase 80 longas-metragens e dois Oscars no currículo, o ator está em O Assalto, que estréia na sexta, e fala sobre sua longa carreira à Agência Estado

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Por Agencia Estado
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Apesar dos 72 anos, de quase 80 longas-metragens no currículo e de duas estatuetas do Oscar na estante, Gene Hackman não pode ouvir a palavra aposentadoria. Freqüentemente lembrado por produtores e diretores para interpretar homens comuns sob circunstâncias extraordinárias, o ator ainda é um dos mais requisitados de Hollywood. "Não consigo parar de atuar, ainda que muitos me vejam como um dinossauro das telas´´, brinca Hackman, que desembarca nos cinemas brasileiros na sexta-feira, na pele de um veterano ladrão de jóias em O Assalto. Esse suspense dirigido por David Mamet é o terceiro filme protagonizado por Hackman este ano no País - depois da comédia Os Excêntricos Tenenbaums e do título de ação Atrás das Linhas Inimigas. E o ator eleito recentemente pela revista Variety como o mais "incansável" da indústria já se comprometeu com novo projeto: em setembro começa a rodar The Runaway Jury, baseado na obra do escritor John Grisham. "Eu nunca corri atrás de papéis. São os personagens que ainda me perseguem." E, de preferência, personagens com tendência a correr perigo nas telas. Joe Moore, o ladrão que ele interpreta em O Assalto, encara o roubo mais arriscado de sua carreira - de olho nas barras de ouro que levará como recompensa. "Por mais que eu já tenha encarnado quase todos os tipos possíveis, ainda me sinto desafiado a cada novo papel", diz o vencedor do Oscar de melhor ator por Operação França (1971) e de melhor coadjuvante por Os Imperdoáveis (1992). Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Agência Estado no hotel Regent Beverly Wilshire, de Beverly Hills. Agência Estado - Depois de rodar tantos filmes, o que ainda o motiva a atuar? Gene Hackman - O que mais me instiga no cinema é a interação com os outros atores no set. Eu gosto da troca, do conflito, da tensão e da maneira diferente como cada ator busca uma resposta no companheiro de cena. É como um jogo de pingue-pongue. A cada novo papel, costuma fazer comparações com o que já viveu nas telas? Tento me concentrar no novo trabalho sem levar em conta a minha experiência anterior. Até porque eu nunca fui capaz de identificar o que fiz exatamente nesse ou naquele papel. Isso não funciona para mim. Como sou instintivo, faço tudo na hora, sem anotar a receita. Por isso, prefere os diretores que não ensaiam muito antes de rodar? Eu nunca gostei de ensaiar para não perder a espontaneidade. Sem muito ensaio, os atores são beneficiados por aquela sensação de imediatismo, que toma conta de nós pouquinho antes de começarmos a filmar. Eu gosto dessa tensão. Quando você se dá conta de que "é agora ou nunca". Dessa situação sempre nasce algo bom. De todos os gêneros, a comédia é o que menos aparece em sua filmografia - exceto por "O Nome do Jogo" e "A Gaiola das Loucas"... Infelizmente não me chamam para fazer muitas comédias. Mas não me importo. O que realmente me satisfaz é fazer um trabalho de caracterização, independentemente do gênero ou mesmo do tamanho do papel. Eu gosto de interpretar tipos com carga emocional, com conflitos. Eu provavelmente gosto de conflito, acima de tudo. Por qual trabalho gosta mais de ser lembrado? Diferentemente do que se pode pensar, meus prediletos não coincidem com os que o público, a Academia e a crítica mais gostaram. Tenho muito orgulho de "Espantalho", por exemplo. Um filme que nunca esteve na lista dos melhores de todos os tempos. O que costuma fazer quando não está trabalhando? Eu gosto de pintar, velejar, acompanhar corridas de stock cars e escrever. Atualmente trabalho no meu segundo livro (depois de "Wake of the Perdido Star", escrito em parceria com Daniel Lenihan). A nova história é ambientada em 1929, pouco antes da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Para quem está acostumado a se expressar diante dos outros, nem que sejam os atores e os técnicos do set, não se sente isolado como escritor? Justamente por estar habituado a me expor em público, eu gosto dessa privacidade. Nos últimos cinco anos, quando comecei a levar a sério a minha carreira de escritor, percebi que escrevendo posso expressar emoções e idéias com a vantagem de não me distrair com as outras pessoas da sala. O fato de estar sozinho me força a pensar nas coisas que realmente quero enfocar. Qual o segredo da longevidade de sua carreira? Quando me comprometo com algum trabalho, vou até o fim. Nunca senti que estava dando menos do que podia dar a um personagem. Talvez a minha preocupação com uma performance realista também tenha ajudado a me manter ativo por tantos anos. Muitos atores perdem tempo tentando ser natural, esquecendo que há uma grande diferença entre ser natural e real. Vilões ou heróis, seus personagens tendem a ser figuras autoritárias. Alguma relação com a sua experiência na Marinha (Hackman alistou-se aos 16 anos)? Acredito que não. Apesar da dura experiência militar, eu sempre quis ser ator. Já sabia disso aos 10 anos. A passagem pela Marinha foi coisa de adolescente que queria abandonar os estudos e dar a volta ao mundo. Mas eu tive sorte. Como subi rapidamente de posto, fui parar em Nova York, onde descobri que a minha vocação estava mesmo no mundo das artes.

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