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Gaúchos fazem filme sobre Helena Meirelles

Começam as filmagens do documentário sobre a violeira analfabeta e autodidata

Por Agencia Estado
Atualização:

A vida da violeira Helena Meirelles vai se tornar um filme pelas mãos das diretoras gaúchas Monica Schmiedt e Dainara Toffoli, que nesta semana começam os trabalhos de captação de imagens em Presidente Epitácio (SP). O documentário tem roteiro de outro gaúcho, Antonio Candido, é co-produzido pelo Observatório Filmes, de São Paulo, e terá custo de R$ 164 mil. Parte do orçamento - R$ 90 mil - será coberta por um prêmio oferecido pelo Ministério da Cultura. O restante deve ser bancado por investimentos de empresas e pela emissora de televisão que comprar o direito de exibição. O filme, com 52 minutos, cenas gravadas em película de 16 mm e vídeo digital, está previsto para ser lançado no fim do ano. Analfabeta e autodidata, Helena Meirelles só ficou conhecida em todo o Brasil em 1993, quando, após receber uma fita com as músicas dela, a revista norte-americana "Guitar Player" colocou-a entre os cem melhores guitarristas do mundo, ao lado de nomes como Eric Clapton e Roger Waters. A repentina notoriedade deu à violeira, então com 68 anos, a chance de gravar seu primeiro disco, em 1994. Outros dois viriam em 1996 e 1997. E o quarto está a caminho. Nos dias 3 e 4, ela se apresenta na Sesc Vila Mariana, em São Paulo, ao lado de Almir Sater. O roteirista Antonio Candido escolheu quatro momentos da trajetória de Helena Meirelles para destacar no filme. O primeiro é o aprendizado. A fazenda do avô, perto de Campo Grande (MS), onde Helena passou a infância, era parada de tropeiros e andarilhos, que passavam a noite cantando ao redor do fogo. A menina atenta ganhou um violão de um paraguaio aos 7 anos e aos 9 surpreendeu solando melhor que um tio, músico veterano. O segundo momento são os cinco anos que Helena passou como prostituta e violeira em bordéis do oeste paulista e sul de Mato Grosso. Aos 30 anos, após dois casamentos e cinco filhos, que deixou com os pais ou parentes, ela preferiu trabalhar como prostituta e violeira de zona para não ser mandada por ninguém. Mas a sorte que dizia não ter com homens mudou quando o peão Constantino Machado chegou a Porto XV, a bordo de um bote de um amigo. A paixão à primeira vista dura até hoje e o casamento definitivo é o terceiro tema do filme. O filho que Helena carregava na barriga naquela noite de 1959 é o único que vive - e toca - com ela. De alguns dos outros oito, Helena nem sabe o paradeiro. Por 30 anos, Constantino e Helena viveram em fazendas de Mato Grosso do Sul e de São Paulo. "O quarto momento é o reconhecimento da Helena artista pela Guitar Player", conta Antonio Candido. O filme vai misturar depoimentos de pessoas que conheceram a violeira com cenas dos locais por onde ela passou e dos próximos shows, em São Paulo, na próxima semana, e Porto Alegre, no fim de agosto. Sempre com a sonoridade das guarânias, polcas e chamamés tiradas da viola e do mundo de Helena Meirelles, entre Aquidauana e Presidente Prudente, que o resto do mundo só descobriu há nove anos.

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