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Fox lança pacote de clássicos em DVD

Por Agencia Estado
Atualização:

Havia espectadores em suspense, à espera de que A Malvada, enfim, fosse lançado em DVD. A espera acabou: o clássico de Joseph L. Mankiewicz integra o novo pacote da Fox, que já está nas locadoras. Talvez seja um pouco decepcionante pois não traz a profusão de extras que um clássico desse porte autorizaria esperar. A Malvada chega num pacote com outros pesos-pesados do cinema norte-americano: Como Era Verde Meu Vale, de John Ford, A Luz É para Todos, de Elia Kazan, e Tarde Demais para Esquecer, de Leo McCarey, são os mais prestigiados. Todos ganharam o Oscar, nas categorias de filme e direção. O pacote ainda inclui Cleópatra, o épico, maravilhoso e incompreendido, de Mankiewicz e O Destino do Poseidon, de Ronald Neame, que é, sem sombra de dúvida, o melhor de todos os disaster movies. Por uma decisão um tanto discutível, a Fox fez uma curiosa opção: entre os extras de cada um desses lançamentos, pôs os trailers de outros filmes do mesmo pacote. Assim, o disco de Tarde Demais para Esquecer traz os trailers de A Luz É para Todos, A Malvada e Como Era Verde Meu Vale; o de A Luz É para Todos, o de A Malvada e o de A Malvada, o de A Luz É para Todos. O Destino do Poseidon oferece mais extras, com making of e minibiografias do elenco. E o campeão de extras é o DVD de Cleópatra, que traz depoimentos - nenhum do diretor e da star -, galeria de fotos e um documentário sugestivamente chamado O Filme que Mudou Hollywood. Para abrigar tudo isso, já que o filme é longo, Cleópatra sai num DVD triplo. E o importante é que, mesmo quando a variedade e diversidade dos extras deixa a desejar - caso de A Malvada -, a qualidade de imagem e som é impecável e sempre persiste o fascínio dos próprios filmes. Se você é cinéfilo, gostará de ter A Malvada em casa. Em qualquer momento de tédio, bastará pôr o disco para rodar e apertar os cintos. Com o clássico de Mankiewicz, qualquer noite fica de arromba. A Malvada - Irmão de Herman Mankiewicz, o lendário roteirista de Cidadão Kane, Joseph Lew (ou Leo) foi produtor, antes de chegar a diretor. E foi sempre um brilhante dialoguista. Para confirmá-lo, basta (re)ver A Malvada. No original, é All About Eve. Foi o filme que inspirou Pedro Almodóvar, quando fez Tudo Sobre Minha Mãe. Atriz de grandes papéis, Bette Davis tem um dos melhores de sua carreira como Margo Channing, a estrela cujo lugar Eva tenta usurpar. ´Eva´ é Anne Baxter e, ao contar tudo sobre ela, a câmera de Mankewicz desvenda os bastidores do teatro com uma ferocidade cáustica que só tem paralelo em outro filme daquele mesmo ano mítico de 1950. Foi quando Billy Wilder fez Crepúsculo dos Deuses, o cult Sunset Boulevard, com Gloria Swanson no papel de Norma Desmond. O que Mankiewicz faz com o teatro e a crítica, Wilder faz com o cinema. Virou lugar comum definir o grande Mankiewicz como o cineasta da palavra. Não há como fugir ao que parece um clichê, mas é a pura expressão da verdade. No cinema de Mankiewicz, a mise-en-scène passa sempre pelo dinamismo dos diálogos. Toda tragédia começa e se encerra na palavra, mesmo que um filme como A Malvada, ao reconstituir os esforços de Eva para substituir Margo no palco e na cama do amante, seja fundamentalmente muito divertido (e diabolicamente inteligente). Essa importância concedida à palavra se faz presente também em Cleópatra. O épico com Elizabeth Taylor como a rainha do Nilo teve uma das produções mais conturbadas da história do cinema. Bobagem ficar lembrando o que os interessados já sabem, mas boa parte dos problemas do filme passou pelos caprichos da star. Boa parte não significa todos. Confusões - A série de crises começou quando Mankiewicz substituiu Rouben Mamoulián, que havia iniciado a produção. Naquela fase, Joan Collins faria Cleópatra. Quando a Fox decidiu que o papel seria feito por Liz Taylor, a atriz bancou a contratação de Mankiewicz como diretor e roteirista, ainda impressionada com o trabalho dele em De Repente, no Último Verão. Mamoulián foi despedido. Afinal, sob a direção de Mankiewicz, Liz criou uma admirável heroína de Tennessee Williams, na segunda vez em que incursionou pelo neurotizado universo poético do dramaturgo (a primeira foi com Gata em Teto de Zinco Quente, de Richard Brooks). As doenças de Liz, seu romance com Richard Burton, seu salário milionário (a primeira atriz a romper a barreira de US$ 1 milhão por um papel), tudo isso criou uma aura de escândalo que quase levou o grande diretor à loucura. Mas a verdade é que o filme é muito bom, o que só causará espanto a quem não reconhecer em Mankiewicz, que além de A Malvada fez também A Condessa Descalça, um grande criador de personagens femininas. Mais que um retrato de mulher, Cleópatra expressa um magnífico estudo sobre ´a´ mulher no pré-feminismo, sobre seus sonhos e os artifícios de que ela se vale para realizá-los. É um filme sobre a mulher, mas é também um filme sobre homens e eles são personagens históricos. O Júlio César de Mankiewicz (Rex Harrison) tem a força, a lucidez e a palavra. É um homem excepcional e , por isso mesmo, na cena do enterro a câmera se afasta e o clamor da multidão impede que se ouçam as palavras de Marco Antônio (Burton), quando ele discursa. César não tem sucessores no filme de Mankiewicz. Marco Antônio pode possuir o dom da palavra, mas não possui a força de César. É sempre um deslocado, um demagogo, um homem que não está à altura do seu papel na história. Por isso mesmo, sua vulnerabilidade o torna tão atraente para Cleópatra, que exercita com ele o temperamento maternal tão caro às mulheres. E há, ainda, Otávio (Roddy McDowall), que é o contrário de Marco Antônio: tem a força e não tem o dom da palavra. É o aprendiz de ditador e uma certa sugestão de homossexualismo, que hoje talvez seja politicamente incorreta, contribui para tornar fascinante o desenho do personagem. Os detratores, que o filme possui, não se impressionam muito com nada disso e acham que defender Cleópatra é apenas ponto de honra dos defensores da teoria do autor, estabelecida pela revista francesa Cahiers du Cinéma, na fase de capa amarela, nos anos 50. O próprio Mankiewicz nunca foi um defensor de Cleópatra. Exorcizando a experiência, que foi infernal para ele, nunca se referia ao filme pelo nome. Cleópatra entrou para a história também por isso: como o filme do qual o autor não ousava dizer o nome. A Malvada (All about Eve). EUA, 1950. Como Era Verde Meu Vale (How Green Was My Valley). EUA, 1941. A Luz É para todos (Gentleman´s Agreement). EUA, 1947. Tarde demais para Esquecer (An Affair to Remember). EUA, 1957. Todos DVDs da Fox, R$ 34,90 cada. Cleópatra (Cleopatra). EUA, 1963. DVD triplo, também da Fox. R$ 94,90.

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