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Fórum Mundial discute os rumos do cinema

Evento em Porto Alegre, encerrado ontem, contou com grandes nomes do cinema mundial, como o diretor francês Robert Guédiguian e o italiano Francesco Maselli

Por Agencia Estado
Atualização:

Um outro olhar é possível. Foi a palavra de ordem na capital gaúcha, nos dias 3 e 4, durante a realização do Fórum Mundial do Audiovisual 2002. Embutido no Fórum Mundial Social, o do Audiovisual reuniu representantes de diversos países para discutir alternativas ao poderio de Hollywood, que transforma as cinematografias nacionais em ETs no próprio berço. A organização do evento foi do Congresso Brasileiro de Cinema, com apoio da Fundacine, a Fundação do Cinema Gaúcho, que reúne governo e iniciativa privada para fomentar a atividade cinematográfica no Rio Grande. Na abertura do evento, Assunção Hernandes, presidente do CBC, disse que é fundamental que o cinema brasileiro estabeleça relações de integração com as demais cinematografias independentes do mundo, em especial da América Latina e da Europa, mas também com setores representativos da produção independente dos EUA. Essa necessidade surge de duas situações bem específicas: a dominação dos mercados mundiais, incluindo o Brasil, pela indústria norte-americana, que impede a circulação e visibilidade da produção nacional, e a globalização das atividades culturais e econômicas, que tende a levar aos foros internacionais a solução das questões nacionais. O Fórum Mundial Social teve como lema "um outro mundo é possível", justamente o título (Un Altro Mondo é Possibile) do documentário que 33 realizadores italianos fizeram, no ano passado, sobre o encontro dos chamados "senhores do universo" em Gênova. Os protestos e até mortes em Gênova provocaram o clamor mundial dos excluídos. Nas duas mesas para discutir o cinema, O Audiovisual e a Sociedade e O Audiovisual - Diversidade Cultural e Hegemonia, um tema recorrente foi a definição de globalização pelos participantes. É uma invenção dos países ricos para eliminar as barreiras à livre circulação dos seus produtos. O audiovisual não foge ao quadro geral das desigualdades que marcam o mundo atual. Eram esperados diretores como os italianos Ettore Scola e Gillo Pontecorvo. Não puderam vir. Nem por isso as mesas deixaram de ostentar presenças. O diretor francês Robert Guédiguian, do maravilhoso A Cidade Está Tranqüila, que estréia na sexta; o italiano Francesco (Citto) Maselli, representando a Federação Européia dos Realizadores de Audiovisual; e o argentino Fernando Solanas somaram-se aos brasileiros para discutir alternativas à hegemonia de Hollywood. Luiz Carlos Barreto, um dos maiores (e talvez o maior) produtores do cinema brasileiro, destacou a importância da necessidade desse outro olhar. Nenhum país pode prescindir do seu imaginário e da sua identidade se quiser ter um compromisso com sua história e seus cidadãos. É uma questão de sobrevivência - de estratégia e de geopolítica, dêem o nome que quiserem. "Não podemos adotar o imaginário deles (de Hollywood)", alertou Barreto. A partir daí, os painéis e as discussões trataram sempre da necessidade de criar mecanismos de proteção e incentivo não só às cinematografias nacionais, como à sua integração. Guédiguian falou sobre o modelo francês, baseado na antecipação de receitas, que hoje permite à França dispor de 40% a 50% de seu mercado, uma exceção no plano do Ocidente. "Não queremos protecionismo, mas é ilusório achar que o mercado vai regularizar as distorções", disse Arnaldo Carrillo, diretor da RioFilmes. O encontro terminou na noite de ontem, com a divulgação da Carta de Intenções de Porto Alegre. Um outro olhar, que não o de Hollywood, não é só possível. É necessário. O repórter viajou a convite da organização do evento

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