
03 de setembro de 2020 | 09h00
A 77ª edição do Festival de Cinema de Veneza teve início nesta quarta-feira, 2, em meio a protocolos de segurança para reduzir os perigos de transmissão do novo coronavírus. Durante dez dias, até 12 de setembro, o mítico Lido de Veneza se torna um ponto de referência para o mundo da cultura e do cinema ao aceitar o desafio de celebrar o primeiro grande evento internacional em meio à pandemia.
Numa edição reduzida, a mostra terá 18 longas da competição pelo Leão de Ouro. Mas, o festival internacional de cinema mais antigo do mundo, já foi o palco dos primeiros aplausos para diversas produções que se tornaram depois, clássicos do cinema. Veja a seguir uma lista de alguns deles:
A descoberta do cinema japonês. Quatro pessoas envolvidas num caso de estupro/assassinato dão diferentes versões sobre o caso. Grandes cenas de lutas de sabre, Leão de Ouro e Oscar de melhor filme estrangeiro.
Naquele ano, o Leão de Ouro não foi atribuído. Ganharam Leões de Prata Kenji Mizoguchi (Contos da Lua Vaga), Federico Fellini (Os Boas Vidas), John Huston (Moulin Rouge) e Marcel Carné (Thérèse Raquin). O Brasil foi contemplado com o Leão de Bronze pela saga abolicionista da Vera Cruz. E Ruth de Souza esteve assim, por um triz, de ganhar o prêmio de melhor atriz.
O Leão foi para o mestre dinamarquês da transcendência, pela história do homem que pensa que é Cristo e a mulher que ele ressuscita pela força de sua fé.
O episódio intermediário – entre Canção da Estrada e A Pedra Filosofal – da trilogia que colocou o cinema indiano no mapa mundial. Leão de Ouro. O mundo complexo de Apu, e sua trajetória da infância à maturidade. Nesse filme, em especial – O Invencível, no Brasil -, Apu deixa o vilarejo para estudar em Calcutá.
Escândalo! Um júri cego atribuiu o Leão de Ouro a André Cayatte, A Passagem do Reno, deixando de premiar a obra-prima de Visconti, que sofreu perseguição pela violência do assassinato de Nádia/Annie Girardot. Até o nome da família teve de ser mudado – de Pafundi para Parondi -, porque era o mesmo de um procurador da República, que chegou a pedir a interdição da obra.
A crônica familiar que Zurlini adaptou do romance de Vasco Pratolini dividiu o Leão de Ouro com A Infância de Ivan, de Andrei Tarkovski. A cor como ferramenta para contar a história, e expressar sentimentos.
O Leão de Ouro daquele ano foi para Michelangelo Antobioni, Il Deserto Rosso. A cor, de novo, como expressão do mundo, tal como o vê a protagonista, Giuliana/Monica Vitti. Mas o filme que deu o que falar foi o de Pasolini. Comunista, ateu e gay assumido, ele adaptou o mais político dos Evangelhos. Escândalo e perplexidade no Vaticano, mas o filme terminou levando o prêmio do júri católico.
Dessa vez Visconti levou o Leão de Ouro por sua Electra. Claudia Cardinale como Sandra, que tem de superar a ligação incestuosa com o irmão e o ressentimento contra a mãe, responsável pela morte do pai judeu pelos nazistas.
O Leão rugiu para um dos filmes mais influentes, e importantes, da década. Baseado em Joseph Kessel, erigiu o mito de Catherine Deneuve como a mulher burguesa que se prostitui, à tarde, no bordel de Madame Anaïs. Duplamente ousado, no sexo e na linguagem – na linguagem do sexo -,embora, para dizer a verdade, não mostre muita coisa nas cenas 'íntimas'.
Dessa vez, sim, o Vaticano ameaçou excomungar – o diretor, o diretor do festival, os atores Oliver Reed e Vanessa Redgrave. O episódio das freiras possessas de Loudun, que já dera origem a um livro de Aldous Huxley e a um filme premiado em Cannes (Madre Joana dos Anjos, de Jerzy Kawalerowicz, de 1961). Russell, sim, não tinha meias-medidas. Mostra tudo e mais um pouco. Naquele ano não houve Leão de Ouro, mas Russell ganhou o Pasinetti Award.
Grande prêmio especial do júrti e prêmio da crítica (Fipresci) para o clássico que Leon Hirszman adaptou da peça de Gianfrancesco Guarnieri. A classe operária – dividida – não vai para o paraíso. O Leão de Ouro foi para a alemã Margarethe Von Trotta, por Os Anos de Chumbo.
Ou, no Brasil, Carmem de Godard. Num ano pródigo em adaptações da obra de Prosper Merimée, que inspirou a ópera de Bizet, o autor francês foi quem menos se prendeu ao original. Foi recompensado com o Leão. Sua Carmem integra um grupo terrorista que planeja assalto ao banco em que José trabalha como segurança. Como tio Jeannot, o próprio Godard faz o diretor do filme dentro do filme. Numa cena que provocou polêmica, José/Jacques Bonnaffé masturba-se sobre Marushka Detmers, a Carmem, no chuveiro.
O primeiro episódio da trilogia das cores do autor polonês. Juliette Binoche perde o marido, a filha. Desespera-se, mas no limite vive a experiência da liberdade absoluta. Nada de mais valor lhe poderá ser tirado. Um clássico. Dividiu o Leão com Short Cuts – Cenas da Vida, de Robert Altman.
Os dois pastores que têm uma noite de sexo na montanha do título. Para um deles, o episódio terá consequências devastadoras. A homossexualidade encarada com franqueza. Grandes atuações de Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, o Leão de Ouro (e o Oscar de direção, o primeiro) para Ang Lee.
O autor mexicano só conseguiu fazer o filme em parceria com a Netflix. Iniciou uma nova era – a do streaming -, mas para ganhar o Oscar de direção (seu segundo) Roma precisou passar antes pelo cinema. Uma história de família. Como (não) colocar um carro na garagem, a repressão policial e o desfecho no mar.
Um spinoff da série Batman, mostrando a gênese do vilão. A grande surpresa – uma radical defensora do cinema de autor, Lucrecia Martel, outorgou o Leão de São Marcos a um blockbuster. Todd Phillips, Se beber não Case. E Joaquin Phoenix, que ganhou, merecidamente, todos os prêmios de interpretação do ano.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.